Na literatura de gênero, as obras de um autor valem mais pelo seu conjunto do que por cada uma, isoladamente. O autor erudito (chamemos assim) procura fazer de cada obra uma entidade autônoma; o autor popular vincula suas obras umas às outras, obrigando o leitor a ver nelas um “continuum”. Uma das maneiras de conseguir isto é através dos títulos. Vendo o título de um livro sabemos imediatamente quem o escreveu e a que série pertence, mesmo antes de conferir o nome do autor.
O modo mais óbvio é repetir no título o nome do protagonista da série. Truque dos antigos folhetins: Os Pardaillans... Pardaillan e Fausta... O filho de Pardaillan... O fim de Pardaillan...” Vejam o caso da bem-sucedida J. K. Rowling, cujos livros sempre se intitulam Harry Potter e...”, ferrando em brasa a memória, não dos leitores, porque a destes não é preciso, mas a dos descuidados livreiros, distribuidores e balconistas.
Essa padronização dá ao leitor aquela agradável expectativa de estar adquirindo “more of the same”, “um pouco mais daquilo mesmo”. A literatura de gênero promete a repetição de uma experiência estética, com um mínimo de variação e uma larga base de familiaridade. Os livros de Edward S. Aarons sobre Sam Durell, um agente da CIA, têm todos este formato de título: Missão Budapeste, Missão Stella Marni, Missão Lili Lamaris, Missão Ankara... Não vou enumerar todos, são mais de 40 livros.
Em vez da repetição de nomes, mais sutil é a repetição de estrutura. Vários romances policiais de Ellery Queen têm um esquema de títulos que sempre achei perfeito: O mistério da laranja chinesa, O mistério do sapato holandês, O mistério da cruz egípcia, O mistério do xale espanhol... Já as aventuras tribunalícias de Perry Mason, escritas por Erle Stanley Gardner, têm um esquema semelhante, mas com uma repetição de iniciais que se perde na tradução: The case of the black-eyed blonde, The case of the spurious spinster, The case of the grinning gorilla...
Carter Brown é autor de uma série de livros com o detetive Al Wheeler, histórias divertidas e com uma dosezinha de sacanagem inesquecível para quem tem quinze anos. Seus títulos são inconfundíveis: The Temptress, The Brazen, The Stripper, The Tigress... Era algo tão marcante que quando eu vi uma edição de The Tempest, de Shakespeare, estendi a mão para pegar na estante, equivocado.
Continuidade, seqüência, mera expansão de um universo já conhecido: é isto que o título do romance popular promete ao leitor. Não é tão diferente assim do que ocorre no “romance literário”. Quando um escritor como Campos de Carvalho intitula seus livros, existe uma continuidade subterrânea, de espírito, entre seus títulos. Mas é preciso muita sutileza ao leitor para perceber que A Lua vem da Ásia, Vaca de Nariz Sutil, A Chuva Imóvel e O Púcaro Búlgaro não apenas são do mesmo autor, mas são como que um único grande romance em quatro capítulos.
O modo mais óbvio é repetir no título o nome do protagonista da série. Truque dos antigos folhetins: Os Pardaillans... Pardaillan e Fausta... O filho de Pardaillan... O fim de Pardaillan...” Vejam o caso da bem-sucedida J. K. Rowling, cujos livros sempre se intitulam Harry Potter e...”, ferrando em brasa a memória, não dos leitores, porque a destes não é preciso, mas a dos descuidados livreiros, distribuidores e balconistas.
Essa padronização dá ao leitor aquela agradável expectativa de estar adquirindo “more of the same”, “um pouco mais daquilo mesmo”. A literatura de gênero promete a repetição de uma experiência estética, com um mínimo de variação e uma larga base de familiaridade. Os livros de Edward S. Aarons sobre Sam Durell, um agente da CIA, têm todos este formato de título: Missão Budapeste, Missão Stella Marni, Missão Lili Lamaris, Missão Ankara... Não vou enumerar todos, são mais de 40 livros.
Em vez da repetição de nomes, mais sutil é a repetição de estrutura. Vários romances policiais de Ellery Queen têm um esquema de títulos que sempre achei perfeito: O mistério da laranja chinesa, O mistério do sapato holandês, O mistério da cruz egípcia, O mistério do xale espanhol... Já as aventuras tribunalícias de Perry Mason, escritas por Erle Stanley Gardner, têm um esquema semelhante, mas com uma repetição de iniciais que se perde na tradução: The case of the black-eyed blonde, The case of the spurious spinster, The case of the grinning gorilla...
Carter Brown é autor de uma série de livros com o detetive Al Wheeler, histórias divertidas e com uma dosezinha de sacanagem inesquecível para quem tem quinze anos. Seus títulos são inconfundíveis: The Temptress, The Brazen, The Stripper, The Tigress... Era algo tão marcante que quando eu vi uma edição de The Tempest, de Shakespeare, estendi a mão para pegar na estante, equivocado.
Continuidade, seqüência, mera expansão de um universo já conhecido: é isto que o título do romance popular promete ao leitor. Não é tão diferente assim do que ocorre no “romance literário”. Quando um escritor como Campos de Carvalho intitula seus livros, existe uma continuidade subterrânea, de espírito, entre seus títulos. Mas é preciso muita sutileza ao leitor para perceber que A Lua vem da Ásia, Vaca de Nariz Sutil, A Chuva Imóvel e O Púcaro Búlgaro não apenas são do mesmo autor, mas são como que um único grande romance em quatro capítulos.
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