(Cidadão Kane)
Acaba de ser divulgada a lista dos “100 Melhores Filmes Americanos” segundo o American Film Institute, votada periodicamente por mais de 1.500 cineastas, atores, críticos e técnicos. O primeiro lugar tem sido imperturbavelmente ocupado há anos por Cidadão Kane (1941) de Orson Welles. O segundo atualmente é de O Poderoso Chefão (1972) de Francis Coppola e o terceiro de Casablanca (1942) de Michael Curtiz. O filme mais recente entre os dez primeiros é A Lista de Schindler (1993) de Steven Spielberg, apontado em 8o. lugar, sendo que Touro Indomado de Scorsese (1980) está em quarto.
Filmes mais antigos predominam, pelo conhecido fenômeno do prestígio adquirido e da fama cumulativa. Os mais antigos de todos são Intolerância (1916) de Griffith em 49o. lugar, A General (1927) de Buster Keaton em 18o. e Aurora de F. W. Murnau (1927) em 82o. O único filme do século 21 a surgir na lista, em 50o. lugar, é O Senhor dos Anéis – Parte I de Peter Jackson (2001). À parte este, os mais recentes são O Resgate do Soldado Ryan de 1998 em 71o. lugar, Titanic de 1997 em 83o., e O Sexto Sentido de 1999 em 89o.
Para quem é cinéfilo, a elaboração e comparação de listas assim é um passatempo (ou melhor dizendo um “perdetempo”) inofensivo, que não traz nenhuma informação nova, nenhum novo ângulo de interpretação sobre os filmes assim considerados. Quem quiser conferir a lista completa, dê um pulo aqui: http://edition.cnn.com/2007/SHOWBIZ/Movies/06/21/afi.movies.ap/index.html. Eu me admiro (agradavelmente, porque são filmes que aprecio) com a longevidade de filmes como Cantando na Chuva (5o. lugar), E o Vento Levou (não é grandes coisas, mas segura em 6o. lugar), Lawrence da Arábia (7o.), Um corpo que cai (9o.) e O Mágico de Oz em 10o. Observo também os filmes de ficção científica citados: Star Wars em 13o., 2001 em 15o., E.T. em 24o., Dr. Fantástico em 39o., King Kong (o original, de 1933) em 41o., Laranja mecânica em 70o., e o eternamente injustiçado (pelo menos nos EUA) Blade Runner em 97o.
Americano adora fazer listas, principalmente as listas dos “dez melhores”. A lista satisfaz dois dos principais componentes da mentalidade pragmática e puritana do americano médio: a ordem e a hierarquia. A civilização americana gosta de ordem, de serialidade, de lugares nítidos e funções inequívocas para todas as coisas. Numa lista numerada, não existe lugar para dúvidas poéticas sobre quem está em 5o. e quem está em 6o. lugares: um é um, o outro é o outro, e acabou-se. E, como em toda sociedade de “self made men”, baseada na iniciativa privada e nos projetos de crescimento individual, gosta de comparar, de dizer “A é melhor do que B, e B é melhor do que C”. Isto lhes dá a impressão de viverem num mundo nítido, funcional como um mecanismo, onde sabemos a todo instante, e sem incertezas subjetivas, o quê é o quê, quem é quem, e quanto vale cada coisa.
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