Em 2003, os EUA tiveram uma vitória militar surpreendentemente rápida sobre o Iraque. Ninguém, inclusive eu, achava que fosse ser fácil. Depois vi na TV a cabo uma entrevista feita antes da guerra com um ex-oficial iraquiano, adversário de Saddam Hussein, que aconselhava: “Façam uma operação rápida, vão direto até Bagdá. Se vocês entrarem em Bagdá, o regime cai, porque ninguém faz questão de sustentar Saddam”. O recém-defenestrado Donald Rumsfeld ouviu este conselho e o seguiu à risca. Deu certo, do ponto de vista militar. O problema dos EUA é que eles sabem como derrubar um regime, mas não como pacificar um país, assim como os nossos partidos políticos são ótimos para ganhar eleições mas não há um só que saiba governar.
A situação se deteriora cada vez mais, e todos os dias vaza para a imprensa americana mais um documento secreto mostrando a enormidade dos erros cometidos. Os EUA são como aqueles PMs que são chamados pelos vizinhos para apartar uma briga de casal, aí entram na casa, dão uma surra na esposa, outra surra no marido, arrebentam a mobília, roubam todo o dinheiro, jogam no lixo o que tinha na geladeira, e vão embora disparando tiros pra todo lado.
A culpa é tos soldados? Um artigo recente de Elizabeth Palmer, da Rede CBS, diz: “É impressionante o quanto os soldados norte-americanos são humanos, com um forte senso do que é certo e do que é errado, e como estão mal preparados para aplicar estes conceitos em situações como a do Iraque, porque lhes falta o conhecimento histórico, geográfico e cultural. A imensa maioria deles é de homens decentes presos numa armadilha, e que ainda não entenderam o que está acontecendo historicamente, culturalmente e até fisicamente. Eles também são reféns de uma situação terrível.”
Um documentário recente de Robert Greenwald, Iraque à venda (http://iraqforsale.org/) explora o mundo nebuloso e sórdido das companhias a quem são terceirizados serviços para os soldados no Iraque. Serviços caríssimos e de péssima qualidade, chegando a colocar em risco a saúde e a vida dos militares, como se já não bastasse a guerra civil que eles têm de policiar. Na seção “Facts and Research” do saite é possível consultar documentos e reportagens sobre esse comércio escuso. São companhias como a famosa Halliburton, à qual o vice-presidente Dick Cheney é ligado, além da Blackwater (que o saite define como “um exército privado, de aluguel”), além da L3 Titan e da CACI (que forneceram tradutores e interrogadores para a prisão de Abu Ghraib).
Acho que o leitor se lembra daquele velho provérbio sertanejo de que “do boi só se perde o grito”, porque todo o resto (carne, couro, chifre, o escambau) dá lucro. O Iraque é hoje o principal boi sendo esquartejado e vendido ainda vivo pelas companhias norte-americanas. E enquanto tiver uma “peínha” de couro para arrancar, os urubus não vão largar esse esqueleto.
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