terça-feira, 24 de junho de 2008

0423) As mãos sujas de Che Guevara (28.7.2004)



O lançamento do bom filme Diário da Motocicleta de Walter Salles tem trazido a figura de Che Guevara de volta às páginas dos jornais. Um artigo recente de Sean O´Hagan no The Observer faz uma reavaliação do mito do Che, ressaltando a ironia de um revolucionário radical ter se transformado em ídolo romântico. No filme recente do “Casseta & Planeta”, um personagem confunde Guevara com Raul Seixas, uma piada que ressalta a semelhança de destinos de dois personagens tão diferentes. Diz O´Hagan que a figura de Che hoje em dia lembra mais a de um herói romântico como Byron do que a de um soldado que matava a sangue frio; o filme de Salles reforça este lado dourado da lenda.

Parte deste mito se deve à famosa foto que Alberto Korda fez de Che, com o cabelo ao vento e a estrela na boina, quando este estava numa sacada de Havana, ouvindo Fidel Castro discursar, em 5 de março de 1960. Existe naquela foto um pouco do olhar de bezerro desmamado de Gael Garcia Bernal no Diário da Motocicleta (não, não estou ironizando o ator, que é bom); mas existe também o que O´Hagan chama de “absoluta implacabilidade”. Àquela altura, Guevara não era mais o rapaz ingênuo que saiu de moto para conhecer o mundo e acabou conhecendo as injustiças sociais da América Latina. Era o revolucionário que tinha seguido o conselho de Bertolt Brecht: “Mergulhe na lama, abrace o carrasco, mas mude o mundo, porque ele precisa ser mudado.”

Guevara matou muita gente com as próprias mãos, antes que elas fossem cortadas pelos soldados bolivianos que o executaram. O´Hagan cita um trecho de um discurso seu onde ele diz: “O que nos impulsiona é um ódio incessante ao nosso inimigo, que nos transforma em máquinas de matar, eficientes, seletivas, frias, violentas.” Não é este o tipo de retórica apreciado pelos rapazes e moças que compram posters ou camisetas com a imagem do ídolo. A frase que eles preferem (ainda bem) é a famosa “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.” Uma frase que tenta nos garantir que é possível ser revolucionário e continuar sendo poeta, ser soldado e continuar sendo um namorado carinhoso, ser um líder e continuar sendo um sujeito legal.

Há outra frase de Che, menos conhecida, mas que tem a ver com a parte final de Diário da Motocicleta, quando ele trabalha como médico num hospital de leprosos no meio da selva. Diz ele: “Um dia o mundo compreenderá por que deixei de curar homens doentes e fui matar homens sãos.” É esse salto qualitativo (para usar o velho jargão marxista) que transformou aquele rapaz tímido, asmático, e que não sabia dançar, no soldado que fuzilou sem pena muita gente em Sierra Maestra, e que, na crise dos mísseis de Cuba, sugeriu que os mísseis atômicos fossem disparados contra os EUA. Che tinha um lado cruel, um lado sombrio, mas, como na famosa foto, as sombras servem apenas para realçar o seu lado luminoso.

Um comentário:

Unknown disse...

NÃO PENSO QUE O CHE ERA UM SANTO,ALIAS QUEM É?
MAIS ANTES MATAR POR ALGO QUE ACREDITAMOS,DO QUE SEGUIR O EXEMPLO DO LINDO PRESIDENTE DOS E.U.A E MATAR POR DINHEIROS...
ELE FOI UM GRANDE REVOLUCIONARIO QUE FEZ OQ QUE MUITOS DE NÓS TEMOS VONTADE E NÃO TEMOS CORAGEM,ACHO QUE TODOS SABEM QUEM FOI CHE E O QUE ELE FEZ,NINGUEM ACHA QUE ELE ERA UM GUERRILHEIRO QUE USAVA ROSAS COMO ARMAS.