domingo, 28 de julho de 2013

3250) Os Idealistas (28.7.2013)




(foto de Robert Frank)

Eles estão por toda parte. São pessoas que têm uma visão idealizada do mundo, uma visão excludente que procura o tempo inteiro distinguir o que se aproxima de um ideal estabelecido por eles, e depois descartar o resto. 

São chamados às vezes de elitistas, mas o seu elitismo social, que de fato existe, talvez não seja a origem de tudo. A origem de tudo é essa atitude filosófica, digamos, de quem diz mais ou menos: “Só o que é Bom merece existir”.

É uma atitude meio torre-de-marfim, sem dúvida, e que atrai com muita força aquelas pessoas ansiosas pela ascensão social, pelo reconhecimento intelectual ou pela criação de um ambiente utópico e superficialmente perfeito que lhes dê a ilusão de estar vivenciando O Mundo Como Deveria Ser. 

É uma atitude assim que deu origem àquelas expressões que vemos com tanta frequência em colunas sociais: “Sábado passado, a sociedade carioca esteve presente nos salões do Copacabana Palace para a festa de casamento de...”. Ora, “a sociedade carioca”, em termos realistas, pressupõe a totalidade dos 6 milhões de habitantes do Rio de Janeiro. Para quem se exprime assim, no entanto, “a sociedade carioca” são alguns milhares de pessoas que realmente contam, que têm de fato importância. O resto não existe.

No jornalismo cultural acontece o mesmo. Ele reflete a mentalidade das pessoas para quem rock-and-roll não é música, ficção científica não é literatura, cordel não é poesia, e assim por diante. 

Os defensores dessa visão definem cada uma dessas atividades a partir do perfil das obras que eles consideram importantes. Já que existem as grandes obras literárias, para o restante não basta dizer que são má literatura, é preciso dizer que não são literatura, que estão excluídos do campo literário, das discussões literárias.

Para esse idealismo, só “é” de fato o que corresponde ao seu ideal. Os idealistas têm uma concepção seletiva do mundo. Só existe o que se aproxima do modelo. São eles os primeiros a dizer: “Esse criminoso não é um ser humano”. Dizer que esse indivíduo não é um ser humano os autoriza a negar-lhe tudo que somos obrigados a conceder aos seres humanos por força da lei ou das tradições não escritas. 

Enquanto o ideal de ser humano foi o homem branco, considerava-se que as mulheres não tinham alma e que os negros eram animais.

O contrário dessa visão é a visão realista, que nos diz: cada grupo de seres inclui o que tem de melhor e de pior, e é pelo seu conjunto que deve ser julgado. De nada adianta um país ter dez milhões de milionários se nele ainda existirem dez mil miseráveis. 

O retrato de um país não é sua camada superior, é a justaposição e a comparação entre seus pontos extremos.







Um comentário:

Anônimo disse...

O homem é um animal social, esta frase é célebre, de celebrar mesmo. Há várias formas de se prender nela: uns percebem um ator quem é o social; outros percebem dois atores quem são o homem e o social; há outros que percebem um bem escondido entre os dois quem sou Eu. Detalhe: o fato de não O perceber entre os dois não vai mudar a sua existência (a ambiguidade é proposital).

Será que é um fato que todos nos queremos colher flores em plantações de margaridas? Pois, há quem acredite que devamos colher armados, outros amados ou não... De vez em outra, aviões sobrevoam meu espaço aéreo, mas não sou pista de pouso de ninguém. Arrogante mesmo é o elétron, com uma Liberdade petulante, pois ao elétron foi dada a possibilidade de se perder em ondas... cordas... Onde eu estava? Sim, nas flores, você não viveu as flores? Não caminhou e cantou por entre campos e escolas?

“ De quem é a culpa?”. A culpa é da flor? Ou, a culpa é da abelha, a grande operária da natureza, que deveria pular de flor em flor e ficou perdida com tanta fumaça. “ Não”. Então a culpa é da fumaça? Se a culpa é da fumaça, quem é o responsável pelo fogo, a culpa é de Platão, pois na humanidade a Liberdade não se concretiza. Onde eu estava? Sim, eu estava na culpa de alguém...

É claro que eu me arrisco em um plano quando o céu está nublado, mas não vou adiante, pois é um porre andar em linha reta quando eu menos percebo a linha encontra-se com a paralela. Eu gosto mesmo é de testar, tecendo conceitos, tecendo atos, tecendo textos até consegui, depois de conseguir , eu vou seguindo quem me chama pelo nome, o meu último nome foi angústia. Hei, grita sempre um engraçadinho: “ Só não vá se perder por ai”... Óbvio que eu não vou me perder, quem se perde sabe o caminho.