O
novo disco de Bob Dylan, Tempest está chegando às lojas (ou melhor, já pode
ser ripado livremente). O Bardo aproveitou a ocasião para dar mais uma
entrevista à revista Rolling Stone, na qual solta o verbo sobre os críticos
com uma irritação que há um bom tempo não demonstrava (“all those motherfuckers
can rot in hell”). Bem, como é tempo de política, ele deve estar se dirigindo
aos críticos republicanos.
Já
escutei uma faixa no YouTube, “Duquesne Whistle”, que mais uma vez não é rock, começa
como uma daquelas cantigas “honey pie” dos anos 1930, com uma bateriazinha
básica, guitarra slide, órgão de apoio... Tem um clima de botecos clandestinos
da Lei Seca, ainda com um glitter e um charme dos anos 1920, mas já com um
cheiro de fumaça, poeira e pólvora da Depressão dos 30. Não é rock, como aliás
não têm sido os últimos álbuns de Dylan. É uma raiz melódica do rock, uma raiz
mais remota que o blues, ainda que menos poderosa. Curiosamente, uma raiz que
Dylan compartilha com os Beatles, cuja música entre 1967 e 1969 bebeu nessa
fonte “antiquada”, graças principalmente a Paul McCartney, cujo pai tinha sido
músico de banda nesse período.
Dylan
retoma na entrevista a discussão sobre os versos que andou “pedindo emprestado”
a outros autores em letras de canções recentes. Os casos mais notórios são o
livro Confessions of a Yakuza de Junichi Saga e os poemas de Henry Timrod
(1828-1867), dos quais Dylan teria usado frases inteiras. Diz ele:
“No
folk e no jazz a citação é uma tradição rica e enriquecedora. Alguém aí já ouviu
falar em Henry Timrod? Quem de vocês leu os livros dele ultimamente? E quem foi
que o trouxe à evidência agora? Quem fez vocês se interessarem por ele?
Perguntem aos descendentes dele o que acham dessa discussão. E se vocês pensam
que é fácil citá-lo, e que isso pode lhes ser útil, vão em frente e vejam o que
conseguem. Estou trabalhando dentro da minha arte, dentro das regras e das
limitações dela. Existe aí gente autorizada que pode explicar isso melhor do
que eu. Chama-se ‘escrever canções’. Tem a ver com melodia e ritmo, e depois
disso vale tudo. Tudo que você usa fica sendo seu. Todos nós fazemos isso”.
Um comentário:
Oi, Braulio! Você falou em "Honey pie" e lembrei na hora da canção do Paul McCartney, de mesmo nome, do "Àlbum branco". Aliás, um casamento perfeito da musicalidade do Paul com a alma roqueira/bluseira do Lennon, não acha?
http://www.youtube.com/watch?v=xS7wxh_atFY
De qualquer forma, continuo achando o Album branco uma das "fases" mais interessantes dos Beatles. Tem até um lado mais Bob Dylan do Paul, em Rock Racoon, nessa linha do folk-menestrel... Enfim, me empolguei com seu texto e todas essas músicas me vieram à cabeça.
Abraço!
Edgard
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