sábado, 23 de julho de 2011
2616) Denis Dutton (23.7.2011)
Falecido no fim do ano passado, Denis Dutton é um cara sobre quem não sei muita coisa. Sei apenas que escreveu um livro intitulado The Art Instinct, e foi o criador de um dos meus websaites preferidos, Arts and Letters Daily, um apanhado diário de artigos interessantes surgidos na imprensa de língua inglesa. Uma página de visual agradável (pequenos parágrafos sintéticos, dando uma idéia do assunto de cada artigo, acompanhados de um link para a página respectiva), cujo leiaute, tipologia, vinhetas e outras coisas nos dão a impressão de estar consultando um jornal das antigas. Quem quiser conferir, vá em: http://www.aldaily.com/ .
Numa entrevista sobre a cultura do mundo digital, Dutton afirmou: “É um erro muito grave na indústria editorial, quando falamos sobre a Internet ou sobre publicações impressas, ficarmos nos dirigindo a um repertório limitado de gostos já estabelecidos pelos nossos leitores. Alguns anos atrás, Bill Gates estava se vangloriando de que em breve teremos sensores capazes de, no momento em que entrarmos numa sala, fazerem tocar uma música de nossa preferência ou projetar nas paredes as nossas pinturas prediletas. Que coisa maçante! Que se danem as coisas de que já gostamos, vamos expandir nossos horizontes intelectuais!”.
O mundo digital criou um Caos de bilhões de informações instantaneamente acessíveis e está tentando criar uma Ordem estabelecida pelo nosso perfil, nosso passado. A Web sabe do que gostamos. Quando recebo um email da Amazon Books, ela só me oferece livros que me dão água na boca, pelo simples fato de que são escolhidos por associação de idéias com o que comprei lá com maior freqüência. A Amazon, a Powell’s, a Abebooks, a Livraria Cultura, etc., sabem do que eu gosto, mas o critério eletrônico não é capaz de me revelar um tipo de romance ou de assunto que nunca comprei ali.
Já escrevi aqui sobre a cultura vitrola e a cultura rádio. Cultura Vitrola é aquela em que a gente só ouve a música que já possui, uma cultura fechada em si. Cultura Rádio é aquela em que o que ouvimos é aleatório, sujeito a influências e sujeito a acasos; uma cultura aberta. O interesse do Super-Capitalismo (http://tinyurl.com/5rqexhg) é reunir o maior número possível de informações sobre cada mercado, depois sobre todos os grupos que constituem cada mercado, e depois sobre cada indivíduo que constituem cada grupo, a fim de poder direcionar da melhor maneira possível suas futuras invasões virais de propaganda. A tal ponto que mal conseguiremos caminhar nas ruas sem sermos assaltados a toda hora por propostas irrecusáveis, propagandas de roupas, livros, CDs, delineadas exatamente de acordo com o nosso gosto. (Já vimos uma amostra disto em Minority Report, de Spielberg.) Abaixo isso! Queremos o acaso, queremos o caos, queremos ouvir falar do que não conhecemos para que venhamos a conhecer. O Super-Capitalismo é um lance de dados viciados que quer abolir o Acaso.
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Um comentário:
Pro Capitalismo/pras estratégias de marketing, sempre é interessante catalogar e separar a freguesia. Eles se apropriam de métodos taxonômicos da ciência para melhor aplicar suas estratégias...
Isto me lembrou algo.
Salvo engano, foi o Bruce Sterling que enumerou algumas ideias sobre o que aconteceria/acontece com a cultura no século XXI. Entre outras ideias ele apontava uma "balcanização",isto é,uma fragmentação de ideias, de pessoas que se entricheiram em nichos de ideias que não conversam, não conseguem realizar "trocas" que seriam benéficas a ambos os lados.
Aqui no Brasil, a gente percebe estas coisas qdo se lembra das últimas eleições e do pega-pra-capar entre jagunços e santos guerreiros eleitos pra defender ou espinafrar o candidato do outro...
Mas isto está em tudo que é canto: um outro segmento onde acontece muito é o dos "crentes" versus "racionalistas", "crédulos" versus "céticos" que debatem sobre religião e ciência como se cada uma pudesse ser o Santo Graal da humanidade...
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