domingo, 11 de abril de 2010

1893) O Pato vs. o Peru (3.4.2009)



Dizer que futebol não tem lógica é como dizer que mulher não tem coração. Ter, tem, o diabo é conseguir prever como funciona. No domingo passado a Seleção Brasileira empatou em 1x1 com o Equador, em Quito, cumprindo o que boa parte da imprensa considerou uma de suas piores partidas em muitos anos. Não sei se foi, porque não vi o jogo – tenho melhores coisas para ocupar meus fins-de-tarde de domingo. Mas nesta quarta-feira à noite me abanquei no sofá para ver Brasil x Peru. Primeiro, porque me parecia uma “barbada”; segundo, porque o jogo era em Porto Alegre, ótima ocasião para ver como a torcida reagia à presença dos gaúchos Dunga, Alexandre Pato e Ronaldinho.

O Brasil jogou uma merrequinha de bola, suficiente para ganhar de 3x0 e acabar a rodada em segundo lugar, beneficiando-se de maus resultados dos adversários diretos, especialmente a goleada (que tive a sorte de assistir até o fim) da Bolívia sobre a Argentina por 6x1. Pegando os peruanos no Beira Rio, o Brasil começou demonstrando uma certa velocidade, toques numerosos e rápidos de primeira, bom senso de deslocamento. Fez 2x0 no primeiro tempo com um gol de pênalte e um gol em impedimento, ambos de Luís Fabiano. No segundo, relaxou, e fez mais um, numa arrancada atabalhoada e brilhante de Felipe Melo, que saiu dividindo, trombando, cambaleando, mas entrou na área e tocou para dentro com malícia de atacante.

A torcida saiu mais ou menos pacificada. Afinal de contas ganhamos, fizemos gols, e mostramos as pedaladas e os dribles que encantam os incautos. Mas fica depois desses jogos uma eterna sensação de expectativa insatisfeita. O Brasil é um time ao qual não basta jogar bem e ganhar. É preciso “dar espetáculo”, o que por um lado me irrita porque demonstra a esperança de uma catarse que nos redima de nosso complexo de inferioridade, mas por outro lado exprime uma coisa boa, a visão do futebol como um jogo bonito, onde a firula e o enfeite são mais importantes do que a disputa pessoal e a competição coletiva. Quando o esporte começa a ficar competitivo demais, disputado demais, nada como um pouco de firula para nos lembrar que tudo aquilo não significa nada, nadica de nada.

Duvido que o Brasil deixe algum dia de se classificar para a Copa nessas Eliminatórias, que classificam cinco seleções do continente. Mesmo com Dunga no comando e com uma geração de entressafra, dificilmente conseguiremos formar um time tão fraco que seja suplantado por cinco outras seleções de países vizinhos. Aqui e acolá temos um craque em campo, aqui e acolá as peças se encaixam, aqui e acolá vamos ganhando clássicos contra os que realmente ameaçam (Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia e alguma novidade, que desta vez é o Paraguai). O que entra em disputa nessas Eliminatórias não é a possibilidade de ir à Copa, é a possibilidade, sempre aberta, de reencontro com um futebol lúdico, brilhante, enfeitado e moleque que por algum motivo nos exprime, nos conforta e nos enriquece.

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