sábado, 27 de fevereiro de 2010

1717) Desenrola, Dunga (12.9.2008)



É a velha história: a gente não pode elogiar. Dá um azar danado. O elogiado se acomoda, pensa que não precisa fazer mais nada, e dá no que deu. Domingo passado, coberta de críticas, jogando contra o Chile no alarido de Santiago, o Brasil soube construir um placar vitorioso e, com um jogador a menos, mantê-lo. Quarta-feira, a Seleção, coberta de elogios, enfrentou no Rio de Janeiro a Bolívia (que ocupa a lanterna das Eliminatórias) e, com um jogador a mais, não conseguiu fazer um mísero golzinho. Pior: não conseguiu sequer tentar. Nunca a Seleção foi tão Dunga. Eu devia ter lembrado daquela velha máxima futebolística: zebra que se preza não ganha dois seguidos.

A explicação mais óbvia é que o Chile, jogando em casa, incentivado por uma imprensa ufanista e por uma torcida igual a qualquer outra, partiu para cima do Brasil, tentando a vitória, e levou três gols. Já a Bolívia, escaldada por um século de goleadas, veio jogar com uma retranca digna do treinador brasileiro, e não deu espaço, não deu sossego, não deu chances. E o Brasil – este Brasil, pelo menos – depende muito das chances que os adversários lhe dão, porque criá-las, meu amigo, é um problema.

Faltou vontade? Não, não faltou. Os jogadores se esforçam, batalham, fazem um sacrifício danado. Mas é um sacrifício vão, porque é feito às cegas. Me lembra aquela sextilha clássica de Manuel Xudu: “Gosto de ver cem formigas / uma folha carregando. / Quarenta correndo em cima / sessenta em baixo puxando / e as quarenta ainda pensam / que também ‘tão ajudando”. Os jogadores brasileiros são um pouco como as quarenta formigas em cima da folha. Agitam-se incessantemente, e não sabem explicar o zero no resultado.

O Brasil só ameaçou quando, por volta dos 21 minutos do segundo tempo, deu duas estocadas rápidas, sucessivas, tocando a bola de primeira antes que os marcadores bolivianos fechassem em cima. No resto do jogo, o time ficou rodando e a Bolívia cercando. Vemos jogadores hábeis como Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Juan, Luís Fabiano, Diego, esbarrando uns nos outros e nos adversários, num jogo reduzido às dimensões de uma pelada no Aterro do Flamengo.

Não temam, amigos. Em hipótese alguma o Brasil deixará de se classificar para a Copa. São quatro vagas, e o quinto colocado ainda disputa uma repescagem. Chegaremos lá, mesmo assim, aos tropeções, aos pontapés, aos empates. Chegaremos porque há muitos interesses políticos, econômicos e publicitários envolvidos. Ninguém é doido de fazer uma festa e deixar de fora a estrela principal. Mas a Seleção ainda vai pagar muitos micos como o de quarta-feira passada, porque o propalado “futebol espetáculo” do Brasil, que tanto agrada a Galvão Bueno e aos contadores-de-vantagem, só acontece quando o adversário deixa. O técnico é limitado, a safra de jogadores é medíocre, a Seleção é fraca. E aqui pra nós, esse negócio de jogar no estádio do Botafogo não pode dar sorte a nenhum time que se preze.

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