domingo, 23 de agosto de 2009

1214) Uma Noite no Museu (2.2.2007)



Esta comédia é um daqueles filmes-de-férias que poderiam ter cópias adquiridas por Escolas de Cinema no mundo inteiro, tal a nitidez da fórmula que seguem. É como aqueles casos que fazem um médico, inebriado pelo saber científico, dizer aos seus alunos, apontando um paciente: “Vejam que belo exemplo de escoliose lombar!” Neste caso, o professor diria algo como: “Vejam que belo exemplo de filme-de-atores disfarçado de filme-de-efeitos-especiais, tendo como justificativa ética a décima milésima história de Hollywood sobre um pai desempregado em crise de auto-estima querendo mostrar ao seu filho o quanto ele não é um babaca como a mãe do menino, cujo atual namorado é, este sim, um grande babaca, vive dizendo!” Vejo filmes assim desde que Ben Stiller estava na barriga da mãe (que, aliás, interpreta o papel daquela senhora com a qual ele faz a entrevista de emprego no começo do filme).

A imprensa bate na tecla de que “os efeitos especiais são a única coisa que presta no filme”. Eu os achei ínfimos: limitam-se ao esqueleto de Tiranossauro que anda, e aos soldadinhos e cowboys miniaturizados. Coisas que hoje em dia um diretor entrega à equipe de segunda unidade, e nem confere os “takes” no fim do dia. A premissa do filme (as criaturas de um Museu de História Natural ficam vivas durante a noite) dá a impressão de que os efeitos especiais são mais numerosos, porque vemos uma mistura carnavalesca de cowboys, dinossauros, legionários romanos, vultos históricos, macacos, leões, faraós, o escambau. Noventa por cento são atores fantasiados, como em qualquer Escola de Samba carioca. Torna o filme visualmente mais variado, e o rótulo genérico “efeitos especiais” confere à ação uma impressão de irrealidade.

O filme (de acordo com o saite “Internet Movie Data Base”) custou 110 milhões de dólares, ultrapassou este piso em sua segunda semana em cartaz, e até 21 de janeiro tinha faturado 204 milhões de dólares nos EUA e 18 milhões de libras no Reino Unido. Acho que filmes assim podem ser uma boa ilustração para a teoria kantiana do “fim” e da “finalidade” estética, como explica Ariano Suassuna em sua “Introdução à Estética”: “No pensamento kantiano, as Belas-Artes pertencem a um campo determinado, o da finalidade, no qual não se tem em vista nenhum objetivo prático, mas sim, pura e exclusivamente, o prazer do sujeito e a harmonia de suas faculdades. Já as Artes úteis, ou mecânicas, pertencem ao campo do fim, isto é, da destinação prática do objeto”. Ou seja: o filme de Shawn Levy não visa prioritariamente à finalidade da fruição estética, e sim ao fim prático de sua utilização do ponto de vista do público (entretenimento reiterativo) e do ponto de vista da indústria (manter atores, equipes, estúdios, etc. funcionando). Há filmes que são obras de arte, pertencem à mesma categoria de algumas músicas, livros ou quadros. E há filmes que são empreendimentos utilitários, como parques-de-diversões ou museus. Não são arte.

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