quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

5152) Um paraibano na Copa do Mundo (12.2.2025)




 
Ser o primeiro jogador paraibano a disputar uma Copa do Mundo é algo tão importante quanto ser a primeira atriz brasileira (ou a segunda) a ser indicada para o Oscar. 
 
No resto do mundo, fora do “universo de interesse”, fora dessa bolha (por maior que seja, é uma bolha), pode não ter a menor importância; mas só quem chega a esse patamar sabe a ladeira que subiu. 
 
A verdade é que se um filme brasileiro ganhar um Oscar ou um escritor brasileiro ganhar um Prêmio Nobel todo brasileiro (=um grande número de brasileiros) se sentirá implicitamente valorizado por essa premiação. Um pouco dessa glória choverá sobre nós, que compartilhamos com o premiado um parâmetro dos mais importantes: somos do mesmo país, do mesmo caldo cultural. 
 
Me lembro do que dizia Jorge Luís Borges: “Talvez algum átomo de oxigênio que eu respiro agora já tenha sido respirado por Shakespeare”. 




 
Se Fernanda Torres (que eu admiro muito) ganhar um Oscar, tenho o direito (poético) de imaginar que uma raspa da estatueta dourada choverá sobre meus cabelos, e poderei espalhá-la com o pente. Serei (poeticamente) oscarizado também. 
 
Se em vez da atriz for premiado o filme, comemorarei também. Meus amigos do-contra escarnecerão: “Ah, está comemorando vitória de um bilionário? Você não diz que combate eles?...” Em primeiro lugar, não combato bilionários, combato os mosquitos da dengue, uma luta onde pelo menos posso contabilizar relativas vitórias. E se a categoria “poder aquisitivo” me distancia do bravo Walter, somos aproximados pela categoria “colaborador-na-construção-da-muralha-da-China-levemente-absurdista-que-é-o-cinema-brasileiro,-uma-indústria-em-país-ocupado”. Fica uma coisa pela outra. 
 
Uma exposição que se abriu hoje em João Pessoa (Manaíra Shopping, em frente à Livraria Leitura) celebra o jogador Índio, do Flamengo, hoje meio esquecido pela imprensa e pela torcida. É compreensível. Eu mesmo, que sou paraibano, sou flamenguista, e ainda tenho o cacoete das estatísticas de futebol, lembrava o nome dele, mas somente como atacante do Flamengo, nem lembrava dessa passagem pela Seleção.
 
E hoje cá estou eu, cheio de orgulho retroativo, imaginando como eu-menino teria me sentido, se na infância longínqua tivesse sabido que ele era paraibano. 



(Índio, com a bola, entre Evaristo de Macedo e Didi)


A exposição é organizada por Fábio Henrique Alves, também autor da biografia Índio, o Herói de 57 (Livros De Futebol, 2022), e de um documentário sobre o jogador. 
 
Quando Índio teve seu auge no futebol, no Flamengo, em meados dos anos 1950, eu nem era gente ainda. Pelo clube rubro-negro ele realizou (entre 1951 e 1957) 202 jogos e marcou 134 gols. 
 
Meu pai colecionava revistas de futebol, entre elas a inesquecível Manchete Esportiva, e foi ali que ouvi falar em Índio pela primeira vez. Não sabia que era paraibano e, pensando bem, talvez se soubesse não tivesse dado importância. Quando eu era menino, Campina Grande e o mundo eram uma coisa só. 



(A batalha de Berna: Hungria 4x2 Brasil) 

 
Há dois grandes momentos na carreira de Índio na Seleção. Ele jogou na partida conhecida como “a Batalha de Berna”, na Copa da Suíça em 1954, quando o Brasil foi eliminado pela Hungria, num jogo de muitos pontapés, algumas expulsões, que terminou 4x2 para os húngaros. 
 
O segundo momento foi em abril de 1957. O Brasil disputava um mata-mata contra o Peru. Quem ganhasse iria à Copa da Suécia em 1958. No primeiro jogo, em Lima, o Brasil conseguiu empatar por 1x1, com gol de Índio; e classificou-se na volta com 1x0, no Maracanã, graças a uma folha-seca de Didi. 




Eu soube de tudo isto lendo na Manchete Esportiva, que meu pai encadernava. Já com 12 ou 13 anos, eu sentava na poltrona com um volume ao colo (era uma revista grande, maior que a Piauí) e ia descobrindo o imprevisível passado. 
 
Índio nasceu em Cabedelo em 1931, morreu no Rio de Janeiro em 2020, aos 89 anos. Além do Flamengo, jogou no Corinthians e no Espanyol (Barcelona). 




 
Toda vez que eu, como torcedor do Flamengo, via um jogador nordestino vestindo aquela camisa, sentia um orgulho particular, semelhante ao que muitos fãs do cinema brasileiro sentem quando veem Rodrigo Santoro, Sonia Braga ou Selton Mello trabalhando em grandes produções internacionais. Eu lembrava logo o alagoano Dida, o alagoano Zagalo, o sergipano Nunes, o paraibano Júnior, sem falar em vários baianos, desde Júnior Baiano até Hernane “Brocador”.  

E, é claro, o cearense Everton Cebolinha, o maranhense Wesley, e o potiguar Ayrton Lucas (“acelera, Ayrton!”). 
 
Aqui, no “Baú do Esporte” da TV Globo, uma entrevista com Índio, aos 81 anos, e imagens raras de um Flamengo x Vasco em que ele marca gol.
https://www.youtube.com/watch?v=70JfW_T9ilQ
 
A exposição ‘Índio – O Primeiro Craque’ será realizada no Manaira Shopping (em frente a Livraria Leitura), de 12 a 16 de fevereiro, das 14h âs 20h. A Realização é do Manaira Shopping e TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo, na Paraíba. A exposição terá uma série de objetos utilizados pelo ex-jogador durante a sua trajetória no futebol, acervo de Fábio Henrique Alves.
 




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