A ficção científica popularizou o conceito da “falsa realidade”: a história onde alguém descobre que a vida real que vinha vivendo não passa de uma simulação.
O exemplo mais conhecido é O Show de Truman, onde todo mundo, menos o ator principal, sabe que aquilo é um sitcom de TV. Os livros de Philip K. Dick exploram essa idéia desde os anos 1970; filmes recentes como O 13º andar, Cidade das Sombras e Matrix têm explorado a mesma premissa.
O velho samba de carnaval perguntava: “Que rei sou eu, sem reinado nem coroa?”.
Um artigo de Alex Blumberg publicado este ano na revista Wired (http://www.wired.com/wired/archive/8.03/kingdoms_pr.html) examina o conceito de micronações. São pequenos grupos de pessoas que proclamam a existência de uma nação, e apossam-se simbolicamente de um pedaço de território, em sua cidade natal ou nalgum lugar remoto. Elegem governos, proclamam leis, criam sua própria heráldica e seu código de costumes.
O que as distingue, diz o articulista, é um detalhe: há grupos que pretendem de fato criar um país e obter reconhecimento da comunidade internacional; e há outros que ficam satisfeitos só em fingir uma falsa realidade.
Entre estas micronações fictícias, há algumas curiosas, como Talossa, Freedonia, Triparia. A maior parte delas não passa de um papel-carbono das ficções histórico-geográficas adotada nos “Role Playing Games”, onde se criam verdadeiras enciclopédias de fatos fictícios. Países imaginários é o que mais tem nesse universo de jogos (eletrônicos ou não, interativos ou não).
Acho que não vai demorar muito para algum sujeito esperto fazer a fusão jurídico-administrativa entre uma micronação e um “game”. A micronação não precisará mais de um território terrestre, por assim dizer. Será uma ciber-nação, como existe hoje no universo de jogos como “Ultima Online”; mas poderá conseguir reconhecimento internacional e cadeira na ONU.
Se surgir apenas uma, será uma excentricidade isolada. Mas suponhamos que apareça meia-dúzia, depois uma dúzia, depois vinte, cinquenta? Esses países virtuais só existirão no interior da teia eletrônica; um mundo imaginário, paralelo ao nosso.
Os habitantes de São José do Belmonte (PE) sentiram-se entusiasmados com a grandeza épica que o Romance da Pedra do Reino de Ariano Suassuna projetou nas duas famosas pedras que se erguem naquele município como torres gêmeas, nas quais um macabro ritual de fanatismo matou barbaramente um grande número de vítimas indefesas.
E hoje realiza-se todo ano a Cavalgada da Pedra do Reino, com a presença do Imperador Ariano. A literatura faz a fusão perfeita entre realidade e jogo; principalmente a literatura solta, desbragada, hiperbólica, que tira sua inspiração das narrativas populares.
Daqui a quantos anos teremos o Reino Imaginário de D. Pedro Dinis Quaderna existindo entre nós, uma comunidade virtual de arianistas cibernéticos, uma micronação armorial online?