sábado, 15 de março de 2008

0253) Tonheta: vivo ou morto (11.1.2004)




Nada mais parecido com o Brasil do general Médici do que os Estados Unidos do presidente Bush. Talvez nas prisões americanas não se esteja torturando e assassinando indivíduos por terem lido “O Capital” (ou, no caso, o Corão); mas por outro lado Médici, ao que eu saiba, nunca construiu campos de concentração como o que nossos coleguinhas americanos estão mantendo em Guntánamo. A mais recente novidade, contudo, foi divulgada agora no finzinho do ano pela Associated Press. O FBI distribuiu um boletim para 18 mil centrais de polícia no país inteiro instruindo os policiais para prestar atenção, ao revistar suspeitos durante batidas, blitzes, etc., se eles conduzem almanaques.

Segundo o FBI, almanaques trazem informações sobre cidades e Estados, sobre rios, barragens, reservatórios, túneis, edifícios, etc., além de fotografias e mapas. No boletim, escrito em inimitável jargão burocratês, o FBI avisa: “A prática de pesquisar alvos potenciais é consistente com métodos sabidamente utilizados pela Al-Qaeda e outras organizações terroristas que buscam maximizar a probabilidade de sucesso operacional através de cuidadoso planejamento.” Beleza, né? Isso, amigos, chama-se reação freudiana à própria impotência. E me lembra o que um alto oficial da CIA confidenciou a um repórter, logo após o atentado do 11 de setembro: “O mais humilhante de tudo é sabermos que nós jamais teríamos tido a competência para organizar algo assim, e muito menos a coragem de fazê-lo.”

Essas limitações estão sendo compensadas agora (ou pelo menos é isso que eles acham) através da conhecida tática de matar barata com fuzil, ou curar virose com cirurgia. Um sujeito em atitude suspeita e com um almanaque no porta-luvas do carro tem tudo para ser terrorista. Fui consultar meu exemplar de 1999 do “Old Farmer´s Almanac” (meu pai colecionava almanaques, e eu herdei uma beirinha desse gene), em circulação desde 1792. Não vi nada que ameace a segurança nacional da brava América. Tabelas astronômicas de lunações e marés, previsões do tempo, piadas, curiosidades... Nada que não tenha no “Almanaque do Porto”, no “Almanaque Biotônico”, no “Almanaque Mundial”, no “Almanaque do Pensamento” e noutros. Vai ver que foi por isto que a Al-Qaeda nunca conseguiu explodir nada em nosso país.

Eita, Estados Unidos! É dura a vida, hem? 1984, quem diria, aconteceu em 2001. O perigo agora é Antonio Nóbrega inventar de levar para lá seu show “Lunário Perpétuo”. Quando o FBI descobrir que o show se inspira num almanaque sertanejo, vai logo pensar que por trás de Nóbrega está D. Pedro Quaderna, e por trás de Quaderna está Antonio Conselheiro, e por trás de Antonio Conselheiro está Osama bin Laden. E aí danou-se: lá vai o pobre do Tonheta ficar pendurado numa gaiola de ferro em Guantánamo, e pra soltar ele vai ser preciso uma força-tarefa de peixeira em punho formada por Ariano Suassuna, Orlando Tejo e Zé Nêumanne. Aí é que eu quero ver, Donald Rumsfeld!

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