sábado, 15 de março de 2008

0248) Terroristas (6.1.2004)




Na virada do ano, acompanhei pelos jornais as medidas de segurança dos EUA durante as festas de Ano Nono. Nos pontos turísticos ou estratégicos do país foi montada uma vigilância sem precedentes, o que me deixou matutando uma coisa. Tudo bem que quase um milhão de pessoas romperam ano em Times Square, e que explodir uma bomba ali teria impacto no mundo inteiro, durante anos. Seria equivalente a derrubar as torres do World Trade Center. Mas, será que valia a pena se arriscar a passar por todo aquele esquema de segurança? Será que era obrigatório, para um terrorista, atacar justamente no ponto mais bem vigiado?

Assim como o serial-killer, o terrorista tem como principal arma a surpresa. E por isto mesmo ele procura repetir o “modus operandi” que deu certo da vez passada. Repetindo a tática, ele aumenta sua vantagem, pois está fazendo algo que já fêz e já deu certo, enquanto que a vítima está passando por aquilo pela primeira vez. No caso do terrorista, contudo, a “vítima” não são as pessoas que morreram no atentado anterior. É um país, é um governo, e este tem memória, adquire experiência, e pode se preparar contra ataques semelhantes. Vai ser muito mais difícil hoje sequestrar um avião do que era até o 11 de setembro. Claro que ali rola muita incompetência, mas a facilidade que os sequestradores tiveram daquela vez dificilmente vai se repetir.

Fico pensando, então: para que atacar justamente nos locais mais vigiados, e no momento em que a vítima está mais alerta? Por que correr o risco de abortar um golpe? Se eu fosse um terrorista da Al-Qaeda e quisesse estragar o reveion dos americanos, eu atacaria por outro lado. Esqueceria Nova York, Los Angeles, Washington, Disneylância, Golden Gate, e outros alvos óbvios. Mandaria uma equipe (ou várias) ir morar numa cidadezinha (ou várias) dessas bem pacatas, bem simples, no interior de um Estado qualquer. Eles ficariam morando ali, disfarçados sei lá de que, como cidadãos comuns. E ao longo dos meses iriam adquirindo, de pouquinho, o material necessário para preparar um carro-bomba como aquele que os terroristas da direita americana usaram no edifício de Oklahoma. Nada de comprar dinamite na véspera do Natal. Tudo começaria muito antes, e quando entrasse dezembro e o FBI começasse a preparar a vigilância, tudo já estaria pronto.

Surpresa é a palavra chave? Pois se cair uma bomba em Nova York ou Washington, hoje, o americano vai sentir tudo, menos surpresa. Me arrisco a dizer que o pensamento mais reconfortante nos lares americanos de hoje é quando um casal bota os filhos para dormir, numa cidadezinha como Kalamazoo, Springfield, Big Creek, ou coisas parecidas, e pensa: “Aqui, estamos seguros. Se houver algum problema, vai ser na Estátua da Liberdade.” O que sentiriam essas pessoas se de repente explodisse uma bomba no centro de uma cidadezinha de 20 mil habitantes, igual à sua?

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