sábado, 15 de março de 2008

0245) Superstições (2.1.2004)




Escrevo isto na véspera do reveion. Minha cozinheira pediu que eu comprasse bacalhau para a ceia. Respondi que era melhor fazer um frango. Ela se assustou: “Você tá doido? Frango cisca pra trás! Dá azar!” Como eu já tinha ouvido falar nessa lenda, improvisei uma resposta. “Pelo contrário! Você sabia que na antiga China só se comia frango, na véspera de Ano Novo? Eles acreditam que as aves que ciscam pra trás dão sorte, porque elas estão jogando os ciscos e os problemas miúdos para o passado, e limpando o caminho à frente, para um Ano Novo cheio de paz e prosperidade!” Ela arregalou os olhos e fêz o frango. Que foi devidamente jantado, e até agora não deu azar nenhum, como aliás nunca deu nos anos anteriores. (Ou quem sabe deu azar, sim, e é por causa dele que Gisele Bundchen até hoje não respondeu meus emails).

A ciência é unânime em afirmar que as superstições são uma espécie de placebo, remédios que não fazem nada de bom nem de mau, fisicamente, mas que, quando a gente acredita neles, têm efeito psicológico positivo ou negativo. Eu não acredito em vudu ou em magia negra, mas confesso que ficaria incomodado se, toda vez que eu passasse na minha rua, visse um sujeito todo de preto na calçada, recitando coisas em latim, degolando galinhas e derramando o sangue em cima de um boneco com a minha cara e as minhas roupas, com uma estaca cravada no coração. Não tem ciência que tranquilize o sujeito, não é mesmo?

A melhor maneira de desmoralizar essas crenças é atribuir-lhes o efeito contrário: e este talvez seja o conselho mais importante que deixo para a Humanidade. Se ficar somente este, já me considero um homem realizado. Quem foi que disse, por exemplo, que passar por baixo de escada dá azar? Pelo contrário! O momento em que estamos passando por baixo de uma escada é aquele em que estamos mais protegidos contra a queda casual de um tijolo, uma tábua, qualquer coisa que caindo do vigésimo andar dá uma dor de cabeça danada no cidadão.

Sobre a questão do número 13 eu nem preciso me estender muito, uma vez que, por motivos óbvios, é o número mais propício e bem-afortunado do vocabulário matemático. Mais interessante é a questão do gato preto, tido como de mau agouro. É um preconceito sem razão. A origem deste mito é a mesma do mito das bruxas na Idade Média, as bruxas montadas em vassouras e acompanhadas por gatos pretos. Já foi provado que durante as épocas de peste eram sempre essas mulheres que não adoeciam, o que atraía a suspeita de que fossem elas as causadoras da doença. Não eram: eram mulheres que tinham o hábito (raro naquela época) de varrer a casa, e tinham gatos, que comiam os ratos, que transmitiam a peste. Por isto, sobreviviam. E elas e os gatos pegaram a má fama, totalmente injusta. Como se vê, qualquer superstição, qualquer crença baseada em argumentos meramente simbólicos, pode ser desmontada com uma reorganização de símbolos. Sejamos positivos, pessoal. E feliz 2004.

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