Todo mundo abriu uma cerveja gelada e comemorou quando em 1989 os alemães meteram a picareta no Muro de Berlim e o transformaram em pedregulhos, que os turistas compram até hoje em saquinhos plásticos com um adesivo autenticando sua procedência. (É como na Idade Média, quando, conforme os historiadores, venderam-se tantos “fragmentos autênticos da Cruz de Cristo” que, se reunidos, dariam para crucificar oito vezes toda a população da Galiléia) O que era o Muro de Berlim? Era um muro criado pelas autoridades da Alemanha comunista para evitar um êxodo maciço de pessoas insatisfeitas para a Alemanha capitalista, que ficava do outro lado da rua. Pelo menos, era o que pensavam as autoridades. Se elas tivessem fé no próprio taco, era só dizer: “Quem quiser ir morar na Babilônia capitalista, pode ir!” E muita gente talvez não fosse (ver coluna “Pulando muro em Berlim”, 11.4.2003).
Os anos da Guerra Fria foram também os anos da mais concentrada campanha propagandística que a humanidade já viu: a propaganda dos EUA como a terra da liberdade, da igualdade, das oportunidades e do dinheiro. O comunismo prometia a prosperidade universal a longo prazo, e o capitalismo ganhou a parada prometendo a prosperidade individual a curto prazo, mesmo que às custas da penúria alheia. Daí aquela frase tão repetida, de que o comunismo perdeu porque apostava no altruísmo das pessoas, e o capitalismo ganhou porque apostou no egoísmo delas.
Ariano Suassuna, num artigo na “Folha de São Paulo”, comparou o muro de Berlim com a fronteira entre o México e os EUA. Ele ironizava o discurso moralizante dos americanos em favor das liberdades individuais. Quando se tratava de convencer os alemães a fugir para o lado capitalista da Alemanha, tudo bem; mas quando se trata de permitir que latinos desempregados cruzem a fronteira para entrar em seu próprio território, nossos irmãozinhos do Norte são de uma truculência de causar inveja à Gestapo. É cerca, é cão treinado, é helicóptero, é metralhadora... Para afugentar comunistas? Não: operários desempregados que têm no Capitalismo a mesma fé que têm na Virgem de Guadalupe. São os Romeiros do Dólar, que não entendem por que diabos não os deixam entrar na Terra Prometida, depois de fazerem tanta propaganda dela.
As entrevistas com brasileiros deportados dos EUA, mostradas pela TV nas últimas semanas, mostra o lado mais cruel desse processo. Alguém poderia objetar que mais cruel do que a fronteira México-EUA é o muro que Ariel Sharon está construindo para isolar os territórios palestinos. Mas ali, pelo menos, existe a desculpa de que algum palestino pode querer vir explodir cidadãos de Israel. Não me consta que os brasileiros presos e maltratados na fronteira do México trouxessem explosivos amarrados ao corpo para mandar pelos ares as famílias americanas. Não: eles foram chamados. Mas no Paraíso Capitalista são muitos os chamados e poucos os escolhidos, e os excedentes que se danem.
Os anos da Guerra Fria foram também os anos da mais concentrada campanha propagandística que a humanidade já viu: a propaganda dos EUA como a terra da liberdade, da igualdade, das oportunidades e do dinheiro. O comunismo prometia a prosperidade universal a longo prazo, e o capitalismo ganhou a parada prometendo a prosperidade individual a curto prazo, mesmo que às custas da penúria alheia. Daí aquela frase tão repetida, de que o comunismo perdeu porque apostava no altruísmo das pessoas, e o capitalismo ganhou porque apostou no egoísmo delas.
Ariano Suassuna, num artigo na “Folha de São Paulo”, comparou o muro de Berlim com a fronteira entre o México e os EUA. Ele ironizava o discurso moralizante dos americanos em favor das liberdades individuais. Quando se tratava de convencer os alemães a fugir para o lado capitalista da Alemanha, tudo bem; mas quando se trata de permitir que latinos desempregados cruzem a fronteira para entrar em seu próprio território, nossos irmãozinhos do Norte são de uma truculência de causar inveja à Gestapo. É cerca, é cão treinado, é helicóptero, é metralhadora... Para afugentar comunistas? Não: operários desempregados que têm no Capitalismo a mesma fé que têm na Virgem de Guadalupe. São os Romeiros do Dólar, que não entendem por que diabos não os deixam entrar na Terra Prometida, depois de fazerem tanta propaganda dela.
As entrevistas com brasileiros deportados dos EUA, mostradas pela TV nas últimas semanas, mostra o lado mais cruel desse processo. Alguém poderia objetar que mais cruel do que a fronteira México-EUA é o muro que Ariel Sharon está construindo para isolar os territórios palestinos. Mas ali, pelo menos, existe a desculpa de que algum palestino pode querer vir explodir cidadãos de Israel. Não me consta que os brasileiros presos e maltratados na fronteira do México trouxessem explosivos amarrados ao corpo para mandar pelos ares as famílias americanas. Não: eles foram chamados. Mas no Paraíso Capitalista são muitos os chamados e poucos os escolhidos, e os excedentes que se danem.