Uma campanha
política é uma peça propagandística (e teatral) complexa. Envolve, em sua parte
visível, um catatau de impressos, programas de TV, discursos, comícios,
debates, entrevistas coletivas, etc. A
parte invisível deve ser (nunca vi) de reuniões a portas fechadas com doadores
de campanha, com companheiros de coligação, promessas, acenos de futuras
vantagens, contratos a sete chaves onde cada vírgula é barganhada até a
exaustão.
Essa parte
invisível é, para as pessoas e entidades envolvidas, a verdadeira campanha, o
jogo real, uma Copa do Mundo privada que acontece também de quatro em quatro
anos. A parte visível é essa festa
diante dos olhos de dezenas de milhões de eleitores. A campanha não é a Copa, é
a cerimônia de abertura. A Copa mesmo começa depois da posse.
Seria injusto
dizer que a campanha não tem valor nenhum.
É a conquista dos corações e mentes do eleitorado, e para isso as
encenações têm um peso indiscutível.
Mas campanha é jogo-de-cena.
Algo como a dança de acasalamento de algumas espécies animais. É
necessária para que o acasalamento ocorra, mas o acasalamento em si são outros
quinhentos, que vêm logo depois.
Acasalamentos a
portas fechadas, sob sete capas de sigilo. E la nave va. O direito de eleger os funcionários
públicos que administrarão o mundo onde eu vivo é da maior importância, mas
seria tão bom que bastasse isso. Que
não precisasse ficar cobrando, não precisasse vigiar e punir. A maioria dos cidadãos, se perguntados,
diriam que não querer se envolver com política é legítimo, mas não precisa
entrar em choque com quem quer.
Eleições são
como trocas de técnico no futebol. Têm
importância? Claro que têm. Emocionam
multidões? Certamente. Podem trazer
mudanças boas, mudanças ruins? Sem
dúvida. Mas a estrutura fundamental não
muda. Um Presidente da República, pra dar só um exemplo, é o técnico a quem
cabe organizar o time e botá-lo pra correr.
Está ali para manter a todos fora do buraco, se possível, até pra que a
galinha não pare de pôr seus ovos de ouro.
Quem manda no clube, no entanto, não é o técnico. Em muitos casos, não
manda nem no time que botou em campo.