Serei eu o último cara que lembra dessas coisas? Não, porque a maioria dos que conheço são até mais novos do que eu. Havia uma cachaça chamada Praianinha que tinha um ótimo jingle. Vejam o que é nossa civilização – eu não tinha idade para tomar cachaça, mas já era exposto a ouvir jingles. Uma pequena obra-prima que vou transcrever: “Se meu time ganhar / Praianinha vou tomar, para comemorar; / mas se meu time perder / Praianinha vou beber, para esquecer... / Praianinha na tristeza, Praianinha na alegria / Praianinha toda hora, Praianinha todo dia... (E se meu time ganhar...)”
Em matéria de equilíbrio dá um Descartes, e em matéria de
saber viver dá dez Omar Khayam. Feliz é
o povo que tem suas praianinhas, de todas as naturezas, para atiçar o prazer e
amortizar a dor. (Admito que a leitura
conspiratório-marxista, de que o slogan evidencia a onipresença da
subliminaridade comercial, nos momentos em que o consumidor está mais emotivo e
fragilizado, tem lá seus argumentos.)
Não me surpreenderia que um jingle assim fosse de Rosil Cavalcanti, de
Luiz Queiroga, de Lamartine Babo (a música é meio um sambinha), de Luiz
Bandeira.
Beber para lembrar, beber para ajudar a perder... A bebida e
a comida podem até ser qualquer uma, porque a fantasia de quem precisa beber e
precisa comer é infinita. Baudelaire chamou as drogas de paraísos artificiais,
mas hoje elas são muito mais “analgésicos hilariantes”. Elas apagam de mentira
a dor, e nos obrigam a sorrir. Assim é a cerveja, para dar só um exemplo, e que
Deus abençoe, em sua infinita capacidade diplomática, quem a traz até a nossa
porta.
Praianinha deveria ter saído em duas embalagens. A da
derrota, “batizada” com um estimulante. A da vitória, com um relaxativo. A
sabedoria não está só na simetria, mas no equilíbrio dinâmico. Quando algo
chega ao seu extremo, a tendência é voltar.
Lei da Natureza, ou sabedoria chinesa?
Tanto faz, assim como tanto faz saber quem foi o primeiro enunciador da
frase “dois mais dois são quatro”. Faz
diferença o autor? Basta ser verdade.
O autor deste jingle: "Se meu time ganhar..." Chama-se Élzio Freitas e é meu pai. Hj com 86 anos de idade. Mora em Niterói - RJ. Seu tel.021 3628 4740 e 26109038.
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