(ilustração: Ralph Steadman)
...
e um ano transcorreu num só segundo
como
um flash, um relâmpago, um raio,
e
eu aqui, tropeçante, e eu, cambaio,
cultivando
as derrotas, como plantas;
não
importa se feias, pois são tantas
que
formando fileiras, curvas, retas,
traçam
formas: mandalas incompletas
arabescos
que algum valor terão...
Acabei
de encontrar minha missão
no
planeta dos cactos e das rosas.
Como
Augusto, o das letras tenebrosas,
quero
que o solo coma os meus resíduos
como
sempre tem feito aos indivíduos
que
recolhem do mundo os elementos
com
que compor seus corpos suarentos...
A
alma é um pião que na poeira
gira,
gira; e o corpo é a ponteira
encravada
no chão do mundo tosco
tirando
chispas do terreno fosco
onde
um dia seus ossos dormirão...
Que seja a Glória ter pisado o chão,
ter sido gente, bicho, fruta e flor,
ter sentido o prazer, quase uma dor,
da água fria escorrendo pelo rosto...
O prazer de escrever. De ter composto
um fio de melodia original
que deu prazer a quem, num dia tal,
num subúrbio distante, num distrito,
ouviu um som e disse; "que bonito,
isso aí que no rádio está tocando,,,"
"E eu pela estrada, entre estes monstros, ando"
dando o dedo ao destino que me aguarda,
e peço a Deus, esta eminência parda,
que me dê no relógio alguns acréscimos.
ter sido gente, bicho, fruta e flor,
ter sentido o prazer, quase uma dor,
da água fria escorrendo pelo rosto...
O prazer de escrever. De ter composto
um fio de melodia original
que deu prazer a quem, num dia tal,
num subúrbio distante, num distrito,
ouviu um som e disse; "que bonito,
isso aí que no rádio está tocando,,,"
"E eu pela estrada, entre estes monstros, ando"
dando o dedo ao destino que me aguarda,
e peço a Deus, esta eminência parda,
que me dê no relógio alguns acréscimos.
Convenhamos:
os tempos estão péssimos,
mas
mesmo assim insisto em desfrutá-los;
escrevo
à noite enquanto espero os galos
e
em dueto a difusa passarada
que
gorjeia: "Aproveita, camarada,
vai
fazer um café, não dorme agora!”.
Troco
minhalma por mais uma aurora.
Troco
o que fui pelo que não serei,
os
futuros que nunca alcançarei,
a
imensidão do que haverá sem mim...
Mas
a vida não quer que seja assim
e
me obriga a bebê-la de um só gole.
Quer
saber?! Sanfoneiro, puxe o fole,
faça
o povo rodar, rode também!
Quanto
mais vida vai, mais vida vem:
eis
a única lei deste Universo.
Vale
a pena (pergunto) mais um verso
celebrando
o Natal e os jingobells?
Onde
quer que eu me vire vejo os céus
piscando
essas luzinhas de néon;
cada
shopping um vírus do Leblon
se
alastrando na taba brasileira...
Cem
mães gritam, regendo a brincadeira
dos
guris na piscina de bolinhas,
pula-pula,
boliche e argolinhas,
nas
descidas do escorregador...
E
o Natal musical e multicor
volta
a chiar na chapa do verão
e
esta dor que voltou me dá razão
para
pensar de noite, olhando a treva...
E
o rio-tempo em seu passar me leva
e
eu canto o tempo, e reinvento o rio,
e
esta caneta desenrola um fio
de
palavras que valem por meu rosto...
É
dezembro, é abril ou é agosto
esse
Natal que não melhora o mundo?...
Maravilhoso e grandioso sempre!
ResponderExcluirBrilhante
ResponderExcluirMuito bom, poeta. Um grande poema agalopado.
ResponderExcluirArievaldo Vianna
Estupendo! Grande Braulio!
ResponderExcluirComo escreve bem...Meu Deus!!
ResponderExcluirNesses versos tem um loop...kkkk
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