Cap. 1 – De como a professora da creche deu um grito agudíssimo de terror que fez todas as crianças começarem a chorar ao mesmo tempo, numa tarde pacífica de abril, na cidade de Vila Irmã, quando Anistaldo Setúbal, de oito anos, bradou, de pé em cima de uma carteira da sala, empunhando o extintor de incêndio que acabara de arrancar da parede do corredor: “Meu nome é King Mariola! King Mariola, nessa butina! Quem me chamar desse outro nome horroroso eu torrarei com este meu lança-chamas!” – após o que, constatando o deslize retórico, ele próprio se dobrou na gargalhada.
Cap. 2 – De como o time de vôlei do 2º. grau do colégio
Paulo VI, antes do jogo decisivo contra o colégio Pio XII, se quedou perplexo quando,
na hora da fala motivacional antes de entrar em quadra, momento em que o
entusiasmo guerreiro inspira frases como “Bora lá, moçada!”, o levantador King
Mariola provou por a+b que o Papa Pio XII tinha sido colaborador dos nazistas, e
bradou: “Bora lá, galera, vamos esmagar os subterrâneos do Vaticano,
desmascarar os títeres do Reichstag, repensar o Ocidente!”, uma
chamada-na-chincha com tal poder persuasivo que o time ganhou por 3 sets a
zero, coisa que jamais acontecera em sua história.
Cap. 3 – De como rapidamente nos transportamos para dez anos
à frente, numa reunião na Universidade Metodista do município de Coronel Valdano (Tocantins), onde King Mariola
se tornara o mais jovem chefe do Departamento de Artes, e ao questionar a
escassez de verbas remetidas por um relutante Ministério da Educação ele deu um
murro na mesa e propôs: “Pois então vamos mandar pro Ministério o relatório
dizendo o que eles querem ouvir, e vamos fazer na vida real aquilo que a gente
quer fazer, e pronto, eles nunca vão ficar sabendo, até porque eles estão todos
naquele cu-do-mundo que é Brasília e não têm tempo de vigiar esse vice-cu-do-mundo
que é o município de Coronel Valdano!”—e não é que deu certo?!
Cap. 4 – De como em seguida King Mariola deitou e rolou nos
cifrões federais, e o Delegado local se achegou pensando em faturar alguns
trocados, mas logo considerou que se fosse pêgo não teria tal poder de
argumentação para se safar.
Parece Bilbo Bolseiro !
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