Um professor nos disse certa vez: “Começar a escrever um romance preocupado com o estilo é como começar a construir uma casa pela pintura, depois pensar onde vão ficar as paredes, e só no fim planejar em que rua vai ser a casa.”
Exagero, é claro. Até porque a relação entre estilo e história não é a relação entre pintura e parede. Estilo não é uma coisa exterior que se espalha sobre algo de natureza diversa que foi colocado antes. Estilo e história são como a casca da fruta e a “carne” da fruta. Coisas diferentes mas entrelaçadas, que crescem juntas, a partir de um só impulso inicial e do mesmo material genético.
Já
citei aqui George Lucas, para quem de nada adianta ter 15% de um roteiro
perfeito e não ter o resto. “Escreva tudo, até o The End,” aconselha ele;
“depois volte ao começo e venha ajeitando. O importante é trabalhar em cima de
algo já feito de ponta a ponta.”
Essa recomendação pode até sofrer ressalvas de quem (como eu) acha Lucas um roteirista apenas sofrível, na melhor das hipóteses. Mas não difere muito do que Raymond Chandler, um grande intuitivo que detestava planejar enredos, dizia numa carta a seu amigo Charles Morton em 1945:
Essa recomendação pode até sofrer ressalvas de quem (como eu) acha Lucas um roteirista apenas sofrível, na melhor das hipóteses. Mas não difere muito do que Raymond Chandler, um grande intuitivo que detestava planejar enredos, dizia numa carta a seu amigo Charles Morton em 1945:
“Improvise a história o melhor que puder, com
muito ou com pouco detalhe, conforme a inspiração do momento, escreva os
diálogos ou deixe para depois, mas registre o andamento, os personagens, dê
vida à história. Começo a perceber que um grande número de histórias são
desperdiçadas por nós, sujeitos ultra-meticulosos, simplesmente porque
permitimos que nossa mente fique paralisada por causa de pequenas falhas, em
vez de permitir que ela trabalhe por algum tempo livre daquele supervisor
crítico que fica implicando com cada coisinha que não ficou perfeita”.
Seus famosos atritos com Hitchcock (durante a roteirização de Pacto Sinistro) se deram porque Hitchcock não estava nem aí para as motivações íntimas dos personagens. O que lhe importava era o impacto visual, a dinâmica entre montagem e fotografia; não tem coisa mais improvável do que alguém querer fugir de um bando de espiões escalando os rostos esculpidos no Monte Rushmore (Intriga Internacional), mas ele sabia que o público ia ficar de boca aberta.
Os dois estavam certos, ele e Chandler; apenas queriam fazer tipos diferentes de filme.
Adoro seus textos sobre processos criativos, sempre com ótimos achados e dicas.
ResponderExcluirSobre escrever: às vezes acordo, ou da noite ou da sesta, com um conto na cabeça; não! não é que sonhei, pelo menos comigo nunca aconteceu - de sonhar um conto dos sonhos... a estoria acomodou-se na mente enquanto passava horas sem mentir, sem inventar - pois que pra mim, contar um conto é mentir uma pequena estoria inventada, - uma mentira que não ofende. quando eu era marceneiro, preparava a peça e por fim, no dia seguinte, ou dois dias depois, agarrava uma lixa e lixava a peça, até que ela brilhasse,mesmo antes do verniz. O verniz era o ultimo pingo do texto...
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