Ela chegou ali numa tarde em que o sol fazia do céu uma placa de churrasqueira, crestando a pele e encandeando os olhos. Precisou de três homens suados para trazê-la, aos arrancos, dentro de um pote de barro atochado de terra, pesado como um bloco da Pirâmide. Foi instalada na quina do terraço onde o vento sul e a chuva batiam oblíquos e fortes quando era o caso, e onde o sol da manhã fazia sua vistoria diária entre as seis e as oito. Era uma palmeira-ráfia altiva, eriçada de lâminas verde-escuras, reluzentes, num desenho entrecruzado que o mexer do vento e os vidros da porta corrediça multiplicavam.
Parecia
que a futura crônica estava se encaminhando bem, rumo a alguma platitude final
sobre a possibilidade de harmonia entre a natureza e a construção civil, mas aí
o dono da casa viajou, demorou-se, foi correr trecho para minimizar o vermelho
do saldo. Tome avião, tome hotel, tome
entrevista na TV, tome passagem de som, tome espetáculos com zilhões de
decibéis para porrilhões de pessoas, tome van do camarim para o aeroporto. E no retorno, depois de cumpridas as mais
agradáveis formalidades do reencontro familiar, chegou o momento da rede no
terraço. Espanto! Horror! O que era aquela estrutura marrom, cinza, com
os ramos pendidos, as folhas ressecadas, espantalho de si própria? Como pode uma criatura em menos de um mês
passar de vicejante a escangalhada?
Mais um inspirado curta-metragem, outro clap, clap, clap! Abração, Braulio.
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ResponderExcluirValeu, Fraga... Sinto ainda sua falta no Twitter.