sábado, 6 de abril de 2013

3153) O cientista Frank (6.4.2013)





Frank se considerou o sujeito mais azarado do mundo quando sua esposa o largou. Felizmente (pensou ele) tenho meu laboratório de Topologia Quântico-Temporal.  As descobertas que fiz nos últimos seis meses, e que estão sendo codificadas por meus assistentes, estão com resultados muito melhores do que os que eu previa, e o relatório está gerando uns três artigos que irão desencadear um novo “Ano Miraculoso” na ciência.

Serões e mais serões se sucediam, e ocorreu que num daqueles intervalos de descontração, que às vezes duravam duas ou três horas, Frank viu-se preenchendo cadastro num saite de relacionamentos. E considerou-se o sujeito mais sortudo do mundo quando, poucos dias depois de se pavonear nos chats, fóruns e assemelhados, descobriu que tinha uma alma gêmea. Uma modelo, muito conhecida e fotografada, mas sofrendo de solidão crônica, tédio e repulsa pelo meio dos paparazzi e do show-business. Queria jogar tudo pra cima, casar, ter uma casa bem tradicional e alegre, ter filhos... “Eu nasci de quina pra lua”, disse, numa frase-feita equivalente, o pobre Frank. “Com 68 anos, gordo, baixinho, vivendo de salário de universidade pública... e uma mulher dessa quer casar comigo”. A essa altura, Frank já conferira que a modelo existia mesmo, e uma rápida intimação ao Google lhe produziu fotos bastante animadoras.

Depois alguns meses de correspondência cada vez mais íntima, ele passou a insistir para que ela o visitasse em Oklahoma, e ela dizendo sempre que estava na ponta aérea entre Paris, Londres, Milão, Zurique e Istambul. Ele terminou de redigir o terceiro “paper” enquanto revisava o segundo e abria a revista que acabava de publicar o primeiro. Logo voltou a se achar o sujeito mais azarado do mundo, porque a prometida turnê dela pela Costa Oeste tinha sido cancelada. Teria sido o encontro dos dois face a face, certamente um jantar juntos, quem sabe mais o quê! Ela disse que ia fotografar uma campanha na Bolívia. Se ele quisesse...

O aeroporto da Bolívia parecia um posto de gasolina, mas quem disse isso foi o executivo da poltrona ao lado; para ele, que nunca saíra de seu Estado, aquilo era um mundo de pulp fiction ou de seriado de TV. O hotel era desconfortável, e na portaria ele recebeu um envelope. O bilhete explicava que a sessão fotográfica tinha sido cancelada. Que ela estava indo para Amsterdam. Mas que por acaso deixara para trás uma de suas malas. Será que ele podia ser um doce, e trazer a mala dela para Amsterdam, onde ele o esperava cheia do amor pra dar? Eu sou o sujeito mais sortudo do mundo, disse ele. Por uma mulher como essa eu faço qualquer coisa.



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