Num
artigo de 2001 sobre os “reality shows”, que ele comparava aos espetáculos
sangrentos do Coliseu romano, Salman Rushdie perguntava quanto tempo iria
demorar até acontecer a primeira morte ao vivo, e quanto tempo iria decorrer
entre esta e a segunda. Essa pergunta começou a ser respondida, de certo modo,
nos últimos dias, quando morreu um participante do programa Koh Lanta (a versão
francesa do Survivor), e uma semana depois suicidou-se um médico da equipe do
programa, acusado de negligência. As duas mortes não ocorreram ao vivo, diante
das câmaras, mas acho que não devemos ser tão puristas. Aliás, acabará
acontecendo.
Gerald
Babin, de 25 anos, sentiu-se mal em 22 de março, no primeiro dia de gravação,
durante um dos puxadíssimos exercícios que os participantes tinham de fazer.
Foi retirado de barco da ilha onde as provas acontecem (a imprensa considerou
que se o levassem de helicóptero talvez ele tivesse sido salvo), e morreu em
seguida, de ataque cardíaco. A imprensa francesa, ao que parece, fez inúmeras
críticas ao programa e responsabilizou o médico Thierry Costa, de 38 anos.
Entre outras coisas, foi dito que a gravação continuou durante nove minutos sem
ser interrompida, mesmo com o participante sentindo-se mal, e que ele ainda
teria tido que dar uma entrevista antes de ser socorrido.
Uma
semana após a morte de Babin, Costa suicidou-se num hotel do Camboja, pedindo
que seu corpo fosse cremado e as cinzas espalhadas lá mesmo, e nunca fossem
levadas de volta para a França. Numa nota manuscrita, o médico afirmou que a
imprensa enxovalhou seu nome, e que nunca mais teria coragem de voltar para a
França e encarar as pessoas.
Admirável mundo novo...
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