Um dos capítulos mais interessantes da literatura fantástica
é o ocupado pelos chamados “detetives do sobrenatural”. Estiveram meio que na
moda durante o fim do século 19 e começo do 20; depois foram sumindo, se bem
que parecem estar voltando, inclusive no cinema. São detetives tipo Sherlock
Holmes, mas que, ao invés de investigarem crimes comuns, investigam casas mal-assombradas,
fenômenos poltergeist, possessões demoníacas, maldições, etc. São, de certa forma, os precursores dos
conhecidos “Caça Fantasmas”.
O que há de interessante neles é que conjugam um gênero
literário extremamente cartesiano e materialista (o romance de mistério
detetivesco) com a narrativa sobrenatural. Uma grande parte da literatura detetivesca
consiste em crimes espantosos que parecem desafiar as leis da natureza, ou
parecem resultados da ação de forças demoníacas, mas logo aparece um detetive
(como nos livros de John Dickson Carr ou de Ellery Queen) que no final põe tudo
nos eixos e mostra que aquilo não passou de um crime humano, muito bem urdido e
muito bem executado.
Li agora The Casebook of Carnacki, the Ghost-Finder, de
William H. Hodgson, com as aventuras deste “caçador de fantasmas”, contos
publicados na imprensa inglesa entre 1910 e 1912. Lidos cem anos depois, são contos bem
estruturados e bem escritos, que se sustentam admiravelmente, embora sofram com
uma estrutura formulaica. (A estrutura de todos os contos é idêntica: Carnacki
convida quatro amigos para jantar em sua casa, e após o jantar conta uma
aventura em que se meteu; finda a narrativa manda os amigos embora.)
Essa obra já foi vertida para o português brasileiro?
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