Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
2703) A brabeza sertaneja (2.11.2011)
Li essa história há muitos anos, na extinta revista Tempo Brasileiro, e gostaria de descobrir o título e o autor. São dois irmãos sertanejos que brigam por algum motivo e ficam intrigados pro resto da vida. Envelhecem, moram perto um do outro, mas não se falam, sequer se olham. Um deles se mete numa complicação grossa e vem um grupo de jagunços (ou de soldados) para matá-lo. Quando começa o tiroteio, o irmão vê aquilo de longe, pega as armas, corre para a casa do outro. Durante horas trocam tiros, lado a lado, jogam munição um pro outro, salvam-se mutuamente mais de uma vez, e por fim matam alguns dos inimigos e afugentam os outros. Quando tudo sossega, o irmão que tinha vindo ajudar o outro recolhe sua arma e volta para casa, e o conto termina dizendo: “E nunca mais se falaram”.
Isto revela um pouco da ética dos sertanejos brabos. Claro que o conto contém muitas coisas mais, mas o recado mais óbvio é de que a lealdade sertaneja se amplia em círculos concêntricos. Vi uma vez, acho que na Guerra Irã-Iraque, um beduíno tentando explicar a um jornalista brasileiro o complicado sistema de lealdades e inimizades tribais do Oriente: “Eu brigo com meu irmão. Mas eu e meu irmão nos juntamos, se for preciso brigar com nosso primo. E eu, meu irmão e nosso primo nos juntamos, se for para brigar com alguém da tribo vizinha. E nós três e a tribo vizinha nos juntamos para brigar contra um estrangeiro. E assim por diante”.
A ética dos brabos é um capítulo interessante na Ética geral, porque um brabo é por definição um sujeito que não tem medo de nada, não recua diante de nada, não se deixa domesticar. Vale a pena investigar qual é o princípio ético capaz de manobrar e direcionar um cara assim, o princípio capaz de fazê-lo optar por A ou B, de fazê-lo dizer: “Não, não, isto eu não posso, isto eu não devo”. O personagem do conto (de quem será esse conto?) detestava o irmão, mas não podia ficar de braços cruzados vendo o irmão enfrentar sozinho um bando de estranhos. A lealdade do sangue falava mais alto que a rixa pessoal.
Uma outra interpretação pode dizer que o sujeito brabo é um sujeito que gosta de missões impossíveis. Ele não foi ajudar o outro por ser seu irmão, e sim porque o viu em desvantagem numérica. Teria ido ajudar do mesmo jeito o bodegueiro da esquina. O brabo gosta de ver brabeza, gosta de ver heroísmo, gente que enfrenta forças maiores sem se amedrontar. Existe nele algo de quixotesco, algo que lhe diz que só vale a pena entrar numa briga se for em desvantagem, porque em briga equilibrada ou em briga com vantagem qualquer almofadinha se mete, não precisa ser brabo para isso.
Há um tempo deu na TV que um porteiro nordestino incomodado com um tubarão que rondava o posto 9 em Ipanema, entrou na água e abateu o bicho de 1,70 m no soco! Depois o arrastou pra areia...
ResponderExcluirtudo isso só me lembrou a brabeza do Ned Kelly, não sei se vc já sacou o filme, pense num cabra tinhoso esse Ned hehehe mais uma vez parabenizo vossa pessoa pela belíssima palestra sobre literatura fantástica no CFHC-UFPE na última sexta feira, outro ponto que não poderia deixar de mencionar foi sua simpatia de ficar trocando umas ideias com os alunos após o micro recital que ocorreu na saída do prédio. Espero poder vê-lo palestrando mais vezes por essas bandas de Recife.
ResponderExcluirpobre tubarão kkkkkkkkkkkkk
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