Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
2702) Marte vs Maranhão (1.11.2011)
(ilustração de Henrique Alvim Corrêa para A Guerra dos Mundos)
A famosa transmissão radiofônica de A Guerra dos Mundos, feita por Orson Welles em 1938, contou a história em forma de noticiário jornalístico e todo mundo pensou que o país estava sendo invadido por marcianos. É uma das pegadinhas mais famosas da história. Mas não foi a única vez em que isto aconteceu. Em 1949, o golpe foi repetido num país latino-americano. Em seu livro The Panic Broadcast, Howard Koch (roteirista do programa original) diz que foi no Peru; mas encontrei relatos de que foi no Equador (http://glo.bo/sxFivs). Traduziram e transmitiram o noticiário marciano, mas desta vez a população não gostou: quebrou e incendiou a rádio local, e tudo acabou com seis mortos. Mas não é este o nosso tema para agora.
A mesma transmissão foi encenada no Brasil, no Maranhão, em 1971, no aniversário da Rádio Difusora local (vejam a matéria aqui: http://glo.bo/rVo0fy). Toda a história está contada no livro Outubro de 71 – memórias fantásticas da guerra dos mundos, de Francisco Gonçalves da Conceição, professor que coordenou o trabalho de uma turma de graduação em Jornalismo e Relações Públicas. O responsável pelos efeitos sonoros do programa, Manoel José Pereira dos Santos, “Pereirinha”, hoje com 61 anos, diz: “Não tínhamos o que fazer, era uma brincadeira. Mas não sabíamos o alcance e o poder do veículo que tínhamos nas mãos”. A população, pra variar, acreditou que os marcianos estavam invadindo o Maranhão, e procedeu de acordo.
Tudo isto aconteceu em plena ditadura, e ninguém foi preso! A notícia diz que os radialistas foram obrigados a entregar uma gravação em fita do programa à Polícia Federal, e deram um jeito de enxertar nela avisos de que o programa era uma obra de ficção, avisos que não foram feitos na transmissão ao vivo. (Vejam aqui parte da gravação: http://bit.ly/vPLdeA).
Orson Welles, em seu programa, trouxe para os EUA a ação do romance de H. G. Wells, que se passa na Inglaterra. O roteirista Sérgio Brito, hoje com 72 anos, diz que também adaptou a história para o Maranhão. Referiu-se inclusive ao pouso de um “estranho objeto” no Campo de Perizes, que é a única saída terrestre da ilha de São Luís, e explica: “Eu tinha medo de uma fuga em massa acontecer, então coloquei uma nave espacial ali”.
Profetizo que a próxima encenação dessa história se dará através do esforço conjunto de alguns espertinhos que, via Twitter e Facebook, enviarão ao longo de algumas horas testemunhos, “fotos” e depoimentos que se confirmarão uns aos outros e, pela multiplicidade de fontes, darão a mesma impressão de realidade que o noticiário radiofônico produzia nas pessoas de anos atrás. Querem apostar?...
Bráulio, relato da transmissão portuguesa, em 1958, pelo Matos Maia.
ResponderExcluirhttp://www.classicosdaradio.com/InvasaoMarcianos.htm
Abç
LFS
Vou ver, Luis, mas por essa eu também não esperava! Isso leva a pensar no quanto o Discurso fascina mais do que o Tema, porque na verdade ninguém está adaptando HG, está adaptando Orson, o discurso (pseudo-jornalístico) proposto por Orson. Isto fascina mais as pessoas do que uma mera invasão marciana, não acha?
ResponderExcluirPenso que a diferença fundamental está na abordagem. O livro do HG sabe-se de início que é ficção, mas o OW em formato jornalístico deixa margem para dúvidas. Por instantes existem de facto aliens no nosso universo e vieram visitar-nos. A vontade de não estarmos sós é tão grande que estamos dispostos a sacrificar o bom-senso. A FC quer fazer parte do mundo real e não do mundo dos livros. É uma pena (até certo ponto) que a internet e as redes sociais impeçam que a ilusão, quando surge, se mantenha por muito tempo.
ResponderExcluirAbç
Mas as redes sociais podem servir para o mesmo fim. Suponhamos que um grupo de 8 ou 10 escritores de FC em países diferentes combine previamente detalhes de uma suposta invasão, prepare "mock websites", fotos, etc., e num dia previamente marcado desencadeie no Twitter e no Facebook um bombardeio de mensagens e posts dizendo que os aliens estão desembarcando, etc. Se bem executado, pode gerar pelo menos uma noite de credulidade.
ResponderExcluirVamos a isso? :)
ResponderExcluirFoi muita sacanagem da Rádio Difusora. Enquanto noticiavam a suposta invasão marciana, intercalavam com notícias como a da gincana da pesca.
ResponderExcluirEu já ouvi um programa destes. Em uma rádio AM aqui de São Paulo, não lembro mais dos detalhes. Eu era adolescente.
ResponderExcluirFoi por acaso e só percebi algo estranho por achar as "interrupções" muito rápidas, sem tempo efetivo que pudesse se apurar novas informações. Mais tarde, quando se falou em marcianos, percebi que era uma reprodução do programa de Wells (Eu já lera a respeito em um dos Manuais Disney).
Sobre as Redes Sociais serem capazes de criar "monstros" semelhantes: olhem esta notícia sobre uma festa anunciada no Facebook que atraiu uma multidão em São Paulo...
http://busk.com/deck/festa-anunciada-no-facebook-atrai-multidatildeo-na-vila-mariana?q=hoje
Não é a mesma coisa... mas passou perto. Ou não?
Bráulio, essa ideia de usar as redes sociais pode até funcionar, se bem coordenada, visto que é comum serem replicados "hoax" de todo tipo que as pessoas tomam por verdade, inclusive os que são produzidos com claro propósito humorístico. No fim de setembro, o site americano de jornalismo satírico "The Onion" noticiou na forma de "plantão" que os congressistas americanos tomaram um grupo de crianças como reféns e exigiam o repasse de 12 trilhões em verbas para seus Estados, cobrindo o "caso" durante o dia pelo twitter. Por mais absurda que fosse a "nãotícia", muitos acreditaram se tratar de algo verídico, e as autoridades precisaram tranquilizar a população
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