Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 18 de julho de 2010
2282) Cobertura de Copa (1.7.2010)
Não, não estou me referindo a apartamentos no andar de cima em Copacabana. É a cobertura jornalística de uma Copa do Mundo, algo que movimenta este país tanto quanto uma eleição presidencial. Como as duas coisas geralmente acontecem juntas, já se sabe nas redações e nas estações de TV: “Ano que vem, tem Copa e eleição”. São duas guerras pacíficas (até certo ponto) para as quais os órgãos de imprensa se mobilizam como se fossem os exércitos aliados preparando o Desembarque na Normandia.
Uma coisa que me incomoda, como espectador, é a quantidade absurda de informação irrelevante que essa situação produz. Toda TV brasileira, toda rádio brasileira, todo jornal brasileiro tenta mandar gente para a Copa. Algumas emissoras têm 100 ou 200 profissionais trabalhando por lá. (Multiplique isto por 32 países.) E esse pessoal quer somente uma coisa: mandar matérias para a redação. Estão sendo pagos para isso. Receberam passagem aérea, hospedagem, diárias de alimentação, equipamento, gratificação por hora-extra, o escambau. Precisam, portanto, registrar tudo que for possível dos jogos, dos adversários e da Seleção Brasileira. O problema é que quando não dá para achar uma matéria interessante, o pessoal começa a valorizar pequenos detalhes. Fulano mancou durante o treino; estará machucado? O ônibus da Seleção atrasou; terá havido alguma crise? Sicrano não cumprimentou o técnico ao ser substituído; ato de indisciplina?
A crise recente entre Dunga e a Rede Globo foi um sinal disso. Ao que se diz, Dunga cortou alguns privilégios que a Globo tinha em relação a outras emissoras. No tempo de Felipão, Fátima Bernardes viajava dentro do ônibus da Seleção, mandando entrevistas ao vivo para o “Jornal Nacional”. Está errada? De jeito nenhum, ela é jornalista e sua obrigação é conseguir a melhor matéria possível. Agora, Dunga disse: “Na-nani-nanão”. Está errado? De jeito nenhum, e eu como técnico faria o mesmo. O problema é que Dunga é mal-humorado e agressivo, e coloca todo mundo contra si. Quando desfechou palavrões contra um jornalista durante a coletiva isto lhe mereceu uma “blitz” monumental. No dia seguinte, todos os colunistas do “Globo” obedeceram a pauta de sentar o pau no treinador. Curiosamente, um dia depois o mar serenou ... Deve ter vindo uma ordem de cima: “Chega, já basta, vamos dar força pra Seleção, se não pega mal”.
Não é fácil encontrar um equilíbrio. Existe a privacidade de que os jogadores precisam. Eu, se fosse jogador, gostaria de ficar na minha, tranquilo, sem ter que dar 15 entrevistas por dia para a Rádio Bambala ou a TV Arimatéia. Mas também gostaria de poder bater um papo com jornalistas amigos (sim, muitos jornalistas e jogadores são amigos), ir num shopping ou dar uma volta para conhecer a cidade. Se fosse por Dunga, o time ficaria num quartel militar. Se fosse pela imprensa, ficaria num palácio com piscina e de portões abertos, como ficou em 2006 – e deu no que deu.
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