Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 27 de junho de 2010
2202) Messi (30.3.2010)
A Copa do Mundo já está em contagem regressiva no “Globo Esporte” e eu me preparando. O Brasil inteiro se prepara para torcer por mais um título da Seleção. Eu, não. Já sei que o título é praticamente impossível. A Fifa e os poderosos chefões do futebol não nos permitirão ganhar dois títulos consecutivos em 2010 e 2014; e se é pra ganhar somente um, prefiro (e acho que Ricardo Teixeira também) ganhar a Copa que vai ser disputada aqui, na nossa casa. Fica mais redondo, não é mesmo? Esqueçam o título.
Torcer pelo Brasil é minha segunda prioridade. A primeira é ver grandes jogos, grandes craques, grandes gols. A Copa é o Woodstock do futebol. Eu pertenço a essa espécie pouco ortodoxa que gosta mais de futebol do que de um time, ainda que seja o do Brasil. A maioria dos torcedores tem com o futebol uma relação composta em partes iguais de política, militarismo e religião; meu relacionamento com ele é de ordem estética. Se numa final de Copa, jogo empatado, Brasil x Argentina, um argentino fizer um gol de placa tirando o título do Brasil, acho que vou aplaudir tanto quanto se fosse um gol brasileiro.
O sujeito capaz dessa façanha é o baixinho Lionel Messi, que anda comendo a bola há tempos, e que nesta Copa, aos 22 de idade, vai ter a chance de mostrar a razão de sua presença neste planeta. Messi é uma figura. Aliás, o que nos atrai nos grandes jogadores (como nos grandes artistas) é a sua individualidade. Não há dois craques iguais. Mesmo craque de estilos semelhantes (digamos – Beckenbauer e Ademir da Guia) podem ser distinguidos de olhos fechados. Cada craque é um cara que se especializou ao máximo em explorar criativamente uma combinação improvável, rara, de qualidades físicas, técnicas e psicológicas.
Messi é baixinho, maciço, veloz, canhoto, excelente driblador, ótimo finalizador, um pulmão incansável, uma capacidade rara não somente de iniciar como de definir as jogadas de gol. Não apenas goleia com abundância, mas é expert em atrair sobre si três defensores e tocar a bola de biquinho para um companheiro desmarcado mandar para as redes. Dias atrás, em uma semana fez oito gols: 3 no Valência, 2 no Stuttgart e 3 no Saragoza. E faz dando a impressão ilusória de simplicidade, de que o gol já estava pronto e ele se limitou a executá-lo.
Messi revelou-se no Barcelona na época em que Ronaldinho Gaúcho fazia lá o que ele faz hoje. Há um lance dos dois que define, para mim, o que é ser craque. Num jogo difícil, o Barcelona cercava o adversário procurando uma brecha. Ronaldinho viu Messi livre na ponta esquerda, lançou, e Messi entrou na área e fez o gol. O juiz anulou. Dois minutos depois, o Gaúcho recebeu a bola na mesma posição anterior, repetiu o passe e Messi repetiu o gol. Parecia um replay. Depois, o garoto (devia ter uns 18 ou 19 naquele tempo) pulou nas costas do Gaúcho, que o carregou em triunfo pelo campo, com a torcida toda de pé. Seria tão bom ver os dois frente a frente nesta Copa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário