Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
2169) O buraco negro e o encanamento (19.2.2010)
Algumas pessoas já perceberam a semelhança entre a Via Láctea (esta galáxia que habitamos) e a água que escorre pelo ralo do box, no banheiro da nossa casa. A Via Láctea é uma enorme espiral de estrelas que gira lentamente sobre si própria, e tem o formato aproximado de um disco, no qual a proporção entre o diâmetro e a espessura é de 100 por 1: se fosse um disco com um metro de diâmetro, sua espessura seria de mais ou menos um centímetro. E o que existe no seu centro? Um buraco. Pode ser idéia fixa de um musicomaníaco, mas a verdade científica é que a nossa Via Láctea tem a forma exata de um elepê – ou de um CD, que não é muito diferente.
A Via Láctea gira sobre si mesma. Os cientistas calculam de diferentes maneiras a velocidade dessa rotação, mas de um modo geral se admite que o nosso Sistema Solar leva entre 225 e 250 milhões de anos para dar uma volta completa no carrossel galáctico. Durante toda a sua existência o Sol terá dado de 20 a 25 voltas em torno do centro da galáxia, e a Humanidade nenhuma, pois sua existência sobre a Terra cobre apenas 1 / 1.250 de uma rotação completa.
Tudo isto me vem à mente (sem essa exatidão numérica, por suposto) quando estou tomando banho e vejo a espiral de espuma da xampu girando em torno do ralo e sendo sorvida por ele. Meus amigos cientistas me explicaram uma vez que se uma banheira de água com um ralo no centro fosse completamente simétrica, tendo em volta de si apenas forças totalmente equilibradas neutralizando-se mutuamente, teríamos uma lâmina de água totalmente simétrica e lisa, sem ondulações, e a água mergulharia no ralo por igual ao longo de toda a circunferência deste (já isso ocorrer numa represa, na TV). O que é raro no mundo material, sujeito a desníveis, agitações, diferenças de densidade nos fluidos e tudo o mais. A soma destas irregularidades imprime à água (que está executando uma descida vertical) um empurrão horizontal cujo resultado é a espiral, ou melhor, a helicoidal que a sorve no vazio. O torvelinho, o redemoinho, o redemunho.
E o que existe no centro da Galáxia? Dizem que é um Buraco Negro Ultra-Maciço, sorvendo para dentro de si toda a matéria que dele se aproxima, e atirando-a não se sabe onde. Um menino de 5 anos que contempla o ralo do banheiro pode ter a curiosidade de perguntar para onde vai a água. Seus pais, sempre ocupados com coisas mais importantes, dirão que vai “para o encanamento de esgoto do prédio”, o que pode levar o garoto, erroneamente, a imaginar um cano infinito e vertical conduzindo a água rumo ao centro da Terra. É mais ou menos o que imaginamos nós, adultos, quanto ao ralo galáctico que suga e faz desaparecer a matéria das estrelas que caem no seu campo de atração gravitacional. Nunca saberemos. Mas o simples fato de sermos capazes de imaginar isto enquanto enxaguamos o xampu dos nossos cabelos é que nos faz humanos, e necessários ao Universo.
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