Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
2168) Me add por favor (18.2.2010)
Saites de relacionamento tipo Orkut, Facebook e muitos outros estão criando uns curiosos verbos novos e umas formas verbais que parecem, mal comparando, um sanduíche de panetone de chocolate com macarronada-à-bolonhesa. Grande parte desses saites usa instruções em inglês. Mesmo que essas instruções tenham uma versão em português, usuários diferentes empregam versões diferentes, e algumas vezes as opções feitas por um deles interferem em sua comunicação com pessoas que fizeram opção diferente. E mesmo quando optamos pelo português, às vezes a página abre em inglês. Ou vice-versa. Ou em espanhol, ou até italiano. Assim é o mundo virtual: surpresas sem conta, permanente aventura, e emoção, muita emoção!
O Orkut, onde já tive uma página (ou talvez ainda tenha, não a visito há anos) foi onde primeiro encontrei esse termo: “add”. “To add” significa adicionar, somar, juntar algo novo a algo que já estava ali. E o Orkut oferecia aos seus membros essa opção: “Add Fulano as a friend”, “adicione Fulano como amigo”. Nesses saites, é praxe adicionar como amigo qualquer desconhecido, porque existe ali uma bolsa-de-valores informal em que tem mais importância quem tem mais amigos. Posso ter 500 amigos e estar muito satisfeito comigo mesmo, mas minha animação começa logo a murchar quando visito a página de um deles e vejo que o sujeito tem 700. Ora, quem é esse idiota para pensar que é melhor do que eu?! Começo logo a add todo mundo que visita minha página, ou a mandar mensagens para desconhecidos pedindo a eles que me add. Claro que alguns add na mesma hora, e claro que eu também add muitos outros com rapidez, mas nem todo mundo nos add com a velocidade que desejaríamos.
Este último trecho deve ter dado a medida do problema. Metade das pessoas que frequenta esses ambientes não sabe o que quer dizer “add”, ou melhor, entende o que significa, mas não dispõe de um termo em português para essa idéia, porque seu vocabulário é escasso. A outra metade conhece a palavra “adicionar”, mas acha intuitivamente que ela não se encaixa muito bem. E têm razão. A palavra existe, mas não faz parte da nossa usagem normal, cotidiana. Ninguém diz coisas como “vou adicionar seu endereço à minha agenda”, ou “traga seu amigo que eu posso adicionar ele a nossa equipe”, ou “lá deve estar fazendo frio, é melhor adicionar uns casacos à sua bagagem”. Só usamos esse verbo quando falamos de operações matemáticas ou então numa receita culinária: “adicionar uma colher de manteiga, duas claras batidas e uma pitada de sal”.
Verbos ingleses não são flexionados como os nossos. Deduzimos essa flexão em função do pronome. Toda vez que um desses verbos irredutíveis aparece numa frase em português ele provoca um catabí na frase, um solavanco, um tropeço, como quando estamos mastigando um sanduíche e encontramos uma pedra. Nada contra a pedra, pode ser até um diamante ou uma esmeralda, mas o lugar dela não é ali.
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