terça-feira, 27 de abril de 2010

1965) As redundâncias no português (26.6.2009)




Circula pela Internet uma lista de expressões em português que, segundo os missivistas, devem ser evitadas, pois são redundâncias tipo “subir para cima”, “entrar para dentro”, etc.

A lista é muito útil para redatores em formação, estudantes de jornalismo, etc. Algumas expressões são indiscutivelmente bobas. É o caso de se dizer: “duas metades iguais”, “anexo junto à carta”, “superávit positivo”, “planejar antecipadamente”, e outras.

Por que falamos assim? Na grande maioria dos casos é por mero reforço, confirmação, até incorrermos no tal do “pleonasmo”, palavra que parece significar uma doença do pulmão mas na verdade indica uma deformação, por exagero, do discurso verbal.

Um lembrete: “discurso verbal” não é redundância, é para lembrar que estamos nos referindo a qualquer expressão por meio de palavras. Serve para evitar confusão com outra acepção da palavra “discurso” que tem muito mais uso em nossa língua: o discurso político, eleitoral, etc.: “O senador fez um discurso descoordenado e trôpego, tentando defender-se das acusações”.

Voltando aos exemplos acima. Por que usamos esses reforços? Acho que é porque não temos certeza do significado de uma das palavras que usamos e precisamos colocar ao lado dela outra palavra com o mesmo sentido, para evitar dúvidas. (Ou então sabemos, mas temos receio de que nosso interlocutor não saiba.)

“Estou enviando os comprovantes anexos junto a esta carta...” Quem nos garante que o cidadão lá do outro lado, que não conhecemos, sabe o que quer dizer “anexo”? A presença do “junto” é um pequeno ato de tradução, produzindo uma espécie de discurso bilingue dentro do próprio idioma.

O mesmo vale para “superávit positivo” ou “déficit negativo”, embora neste último caso o idioma já tenha disseminado melhor o termo, com adjetivos como “deficitário”, etc.

Algumas formas criticadas me parecem defensáveis. Consta da lista a expressão “exceder em muito”, que para mim faz sentido. Uma medida ou contagem qualquer pode exceder um limite por muito pouco, ou por muito. A distinção é válida. “Não posso lhe dar um cheque de mil reais, isto excede em muito o meu saldo, que é de 150 reais”. É diferente de: “...isto excede o meu saldo, que é de 980 reais”. Quando algo apenas excede, basta um pequeno ajuste. Quando excede “em muito”, não tem solução.

O mesmo se dá com “fato real”, apontado como redundância. Pode ser excesso de sutileza de minha parte, mas eu preciso desse termo como contraposição a “fato fictício”. O primeiro aconteceu de fato; o segundo é algo que alguém supõe ter ocorrido mas o autor do discurso verbal questiona.

O naufrágio do Titanic é um fato real, e esta expressão o distingue de fatos fictícios como a queda de uma espaçonave alienígena em Roswell, EUA (que para mim não ocorreu), o assassinato de Napoleão (que imagino ter morrido de morte natural) ou o afundamento da Atlântida (que suponho nunca ter acontecido, pois ela não existiu).





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