terça-feira, 27 de abril de 2010

1964) Twitterando (25.6.2009)



Me preveniram que é um máximo de 140 caracteres, mas não disseram se é com ou sem espaços, o que é uma grave lacuna em internetês. Mesmo assim, creio que essa limitação estilística não passa de uma “contrainte” para despertar nossa esperteza e precisão. O carvão comprimido numa super-prensa esmigalha-se sobre si mesmo e produz densas moléculas de diamante. Algo semelhante ocorre à linguagem quando comprime seus leques de significado num bloco compacto, auto-suficiente, completo em si mesmo. O Twitter foi inventado para dar aos fãs de alguém um flash eloquente, instantâneo, do que aquela pessoa está fazendo neste momento.

“Ora,”, direis, “mas a essência do Twitter é o acompanhamento, o toque que se recebe e nos dá a pista sobre os passos da pessoa”. Ou seja: é a interatividade que conta, o rastreamento, a possibilidade de fotografar à vida alheia como num Big Brother à distância. Mas – agora sou eu quem diz – de nada adiantaria isso se a gente não soubesse comprimir o essencial no obrigatório, o Todo numa fôrma. Produzir a frase exata no tamanho certo é arte do sonetista, do poeta do hai-kai, do telegrafista,do publicitário, do redator de manchetes. A veiculação, embora importante, foge à esfera do fato criador em si, pertence, se é mesmo o caso, à “estética da recepção”.

Há outras sutilezas a considerar. Quando falamos de um limite, falamos de um máximo. Um limite não atrai, apenas bloqueia. Se dizemos um máximo de 140 caracteres, não significa que cada trecho deva se esforçar para atingir esta marca. Trata-se de uma opção estética. Ritmo também conta. E ritmo se cria jogando com extensões, dosando repetições, variando intervalos. É como beber água: o copo estabelece um limite de volume, mas o que servimos e bebemos varia de acordo com nossa sede.

E, convenhamos, 140 caracteres dá pra dizer um monte de coisas. Grandes citações literárias cabem nesse limite aparentemente exíguo. Quem o estabeleceu provavelmente estava pensando numa relação com bytes de memória, mas não importa. O limite encontrado é um copo cuja água pode matar variadas sedes. “Mundo, mundo, vasto mundo... Se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução.” “A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, e significando nada”. “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. “Eu canto porque o instante existe, e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste; sou poeta”. “O poeta é um fingidor; finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”.

O Twitter pode servir como uma agenda em movimento, um rastreamento do cotidiano. Mas nessa dimensão escolhida pelos programadores cabem grandes verdades, grandes momentos de poesia ou de filosofia popular. É como um buraco de fechadura deste tamanhinho, pelo qual a vista pode alcançar o mundo inteiro.

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