quinta-feira, 15 de abril de 2010

1914) O celibato dos padres (28.4.2009)



Duas notícias nos jornais. Uma delas diz que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que está acontecendo por estes dias, pretende, entre outras questões, discutir a criação de assistência psicológica para os religiosos. A outra notícia é que no Paraguai já surgiu uma terceira mulher alegando ser mãe de um filho do Presidente Lugo, que até pouco tempo era bispo.

Já toquei nesta coluna no assunto do celibato obrigatório para os padres, que considero ter sido um grande erro estratégico da Igreja Católica. E um erro, infelizmente, difícil de desfazer, porque não creio que a Igreja derrube, no futuro visível, esse muro milenar. Dizem que a intenção da Igreja era evitar que os padres constituíssem famílias e deixassem para viúva e filhos o patrimônio gerado pelas suas atividades. Entendo a razão, mas acho-a insuficiente. Os pastores protestantes casam, os rabinos judeus casam, os sacerdotes da miríade de religiões modernas (nascidas nos últimos 200 anos) casam, e todas essas igrejas dispõem de mecanismos anti-empobrecimento. Seria mais complicado, porém mais sensato e mais útil, criar mecanismos jurídicos governando o acúmulo e transmissão dos bens dos sacerdotes do que simplesmente dizer “não casa”. Dá no que dá. Preciso falar nos milhões de “filhos de padres” que existem por aí?

Também não proponho que o casamento fosse obrigatório! Acho mesmo que apenas uma minoria, talvez uns 30%, fosse reivindicar esse direito. A maioria dos religiosos que conheço consiste de intelectuais, sujeitos fascinados pelo pensamento, pela metafísica, pela elucubração filosófica. Prefeririam uma noite na poltrona com um livro de São Tomás de Aquino a uma noite no leito com uma dama atenciosa. Existe, contudo, um grupo para quem seria possível, e necessário, conciliar as duas coisas. Um ex-padre (que largou a batina para casar) me disse uma vez: “Pensam que nós somos tarados, sátiros, que só pensamos em sexo. Estão errados. Gostamos do carinho, do companheirismo, da presença física e terna de uma mulher. Queremos a alegria e o drama de criar um filho. O sexo é um meio para isto. Tive que escolher entre minha igreja e minhas convicções, e Deus decidirá se errei ou não”.

Que drama o do Vaticano. Tenho certeza de que os indivíduos que estão lá sabem perfeitamente a sinuca histórica em que estão metidos há mil anos. Pela vontade deles, talvez, fariam uma “distensão lenta e gradual”, criando um sistema de exceções, de liberações em casos especiais, etc. Mas eles sabem que qualquer passo nesse sentido seria interpretado como uma concessão da Igreja ao acanalhamento moral, ao hedonismo despudorado, à sexualização comercializada e compulsória de todas as atividades humanas, que é o que o Neocapitalismo Freudiano estimula, para faturar às custas de nossas pulsões incontroláveis. “Não”, murmura a Igreja, “nós somos O Centro, e quando O Centro não mais se sustentar, o edifício inteiro virá abaixo”.

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