Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 20 de março de 2010
1801) Um crime de nossa época (17.12.2008)
(Bernard Madoff)
Comentei aqui (em 7.9.2005) o livro O Adversário de Emmanuel Carrere (Ed. Record). É a história de Jean-Claude Romand, um francês que fingia trabalhar na Organização Mundial da Saúde, e durante dezoito anos viveu das economias da mulher, dos pais, dos sogros. Pegava o dinheiro e dizia aplicar num banco suíço. Quando alguém queria fazer um saque, ele arranjava mais um empréstimo e aumentava a bola de neve. Quando foi descoberto, matou a mulher, os filhos, os pais, e tentou se suicidar. Está na cadeia até hoje. Sobre sua história foi feito um ótimo filme, L’Adversaire, dirigido por Nicole Garcia, com Daniel Auteuil.
O espantoso é que ninguém desconfiou. Mais espantoso ainda, contudo, é a quantidade de histórias parecidas que estão pipocando nos EUA após o estouro da bolha financeira dos bancos. É o caso de Marc Dreier, advogado de alto escalão em Nova York, que durante anos controlou um escritório que transacionava fortunas em fundos. Descobriu-se agora que o dinheiro desaparecido (em prejuízos, papéis fictícios, etc.) está na casa dos 380 milhões de dólares. Quase todos os 250 advogados que trabalhavam para ele estão à procura de emprego.
Mais grave ainda foi o caso de Bernard L. Madoff, que saiu até no “Jornal da Globo” (ver em: http://www.nytimes.com/2008/12/13/business/13investors.html). Denunciado por dois dos seus próprios filhos que se sentiram lesados em seus investimentos, Madoff foi preso e descobriu-se que o buraco gerado por suas atividades está em torno de 50 bilhões de dólares. Madoff pagava altos dividendos e cobrava taxas pequenas. Agora, é acusado de ter montado um “Esquema Ponzi”, golpe em que o investidor fica com o dinheiro para si próprio e quando um cliente pede sua aplicação de volta ele capta mais investimentos, rolando o problema para o futuro.
Madoff tinha mansões, iates e carros de luxo em Nova York e na Califórnia, e dava festas onde se bebia e se comia à tripa forra. Sobre os seus clientes, que estão apavorados, diz um advogado de Manhattan: “São pessoas que tinham um imenso patrimônio dias atrás, e que agora se descobrem sem um tostão. Nada restou do que possuíam, a não ser os apartamentos ou casas em que moram, e que em breve terão de vender para poder tocar a vida adiante”. Um investidor arruinado disse: “Trinta e seis anos de fidelidade, durante duas gerações, e é isso que ganhamos”.
O caso de Jean-Claude Romand é um crime comum, mas é o que podemos chamar de “um crime de época”. Um caso patológico no qual se cristaliza o espírito de um tempo, de uma geração, do modo de viver que um mundo aceita como ideal e necessário. O capitalismo internacional está fazendo aos poucos com o mundo ocidental o que Jean-Claude Romand fez com a própria família. Embolsou o dinheiro alheio com promessas de ganhos mirabolantes e o gastou numa farra permanente. Na hora da verdade, só lhe restará matar os credores e suicidar-se.
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