Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 20 de março de 2010
1802) Terror em Mumbai (18.12.2008)
Existe no mundo uma Nova Guerra em curso, um novo conceito de guerra que nada tem a ver com imensas tropas, armamento pesado, invasão maciça de cidades, etc. A Nova Guerra é um prolongamento do terrorismo de 1914 (anarquistas jogando uma granada no carro do ministro, etc.) e consiste em enviar tropas minuciosamente treinadas para massacrar civis anônimos num local que tenha peso simbólico. Os atentados recentes em Mumbai voltam a demonstrar que essa estratégia é a que produz mais impacto.
Em Mumbai, um relato arrepiante saiu na “Forbes”, feito pelo americano Michael Pollack, cuja esposa é indiana. Os dois jantavam no Hotel Taj Mahal quando o tiroteio começou, e passaram a noite fugindo de prédio em prédio, de sala em sala, no escuro, caçados implacavelmente pelos terroristas, junto com dezenas de outras pessoas. (Leia a história toda em: http://bit.ly/bBkbRX).
Perseguidos pelos terroristas, Pollack e a esposa resolveram fugir separados, para aumentar as chances de que pelo menos um dos dois sobrevivesse para cuidar dos filhos. Os funcionários dos restaurantes, em muitos casos, trancaram os clientes em salões e deram a vida para protegê-los. Estamos falando de restaurantes de luxo, frequentados pela super-elite indiana e mundial. Ao que parece, quem trabalha com essas pessoas as considera dignas do sacrifício da própria vida, o que por um lado indica uma coragem admirável, por outra dá um retrato melancólico do poder moral das elites milionárias. Como dizia Orwell, “uns são sempre mais iguais do que os outros”.
Encurralados em salões de luzes apagadas, amontoados às dezenas no chão, os clientes usavam seus celulares e Blackberrys para se comunicar com parentes, com a imprensa, com as forças de segurança. Cochichavam, mandavam torpedos, davam e recebiam instruções. Em muitos momentos foram salvos porque alguém da polícia informava: “O terceiro andar acaba de ser tomado pelos terroristas, fujam daí”. Pollack, trancado numa latrina na escuridão total, ouviu a sala ao lado ser invadida e as pessoas serem fuziladas uma a uma: “Ninguém deu um grito sequer. Ouvíamos apenas os passos dos terroristas e os tiros sendo disparados”.
Há detalhes que parecem inventados por um bom escritor de thrillers como John Farris ou Stephen King: “Eu tinha perdido meu sapato direito na fuga, e precisei pegar no chão uma toalha de mesa e enrolá-la no pé, para poder caminhar sobre os cacos de vidro”. Ao amanhecer, Pollack consegue escapar, e do lado de fora do Taj reencontra a esposa, Anjali. Ele não sabia se ela sobrevivera, porque há três horas estavam sem contato. Os dois se abraçam. Pollack diz que quer tirar uma foto com o celular, com os dois diante do hotel em chamas, mas Anjali queria apenas sair dali o mais depressa possível. Tirar uma foto com o celular numa hora dessas! A Guerra pode ser nova, mas a Paz continua a mesma.
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