terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

1696) Brasil 4x1 Alemanha (19.8.2008)



(Cristiane)

A imprensa vinha chamando esse jogo pelas semi-finais do torneio olímpico de futebol feminino de “uma final antecipada”. É pena que não tenha sido, porque, não sei não, mesmo que a Seleção Brasileira ganhe o ouro na próxima partida dificilmente fará um jogo tão emocionante, e terá uma vitória tão indiscutível quanto a desta goleada sobre o time campeão do mundo. Brasil e Alemanha tinham caído no mesmo grupo na fase classificatória. Não vi o jogo de estréia das duas, que ficou empatado em 0x0. O Brasil nunca tinha vencido a Alemanha. Este jogo, pelo desenho que teve, pelo modo como começou, foi mudando e acabou, é um jogo histórico.

Faz tempo que eu não via um sufoco tão grande quanto o que a seleção alemã deu na nossa a partir do momento em que a juíza fez “pí”. Partiram para cima da gente com aquela saúde de camponesas da Baviera, aquela disciplina de infantaria prussiana e aquela frieza de atrizes do Berliner Ensemble. Fizeram um gol, quase fazem outros, e marcavam as brasileiras num esquema de três por uma, que não nos dava tempo nem de respirar. Antes dos 30 minutos de jogo, peguei umas cinco vezes no controle remoto para desligar a TV e ir dormir de novo, porque vi a catástrofe se formando.

Aí vieram os dois lances decisivos. Marta deu uma voadora numa alemã e não foi expulsa. E faltando poucos minutos para acabar o primeiro tempo veio o gol de Formiga. Perdêssemos Marta, e perdêssemos aquele gol, o jogo teria sido outro. Mas parece que o risco de expulsão da craque acendeu o juízo do time inteiro, e, como o Destino nos deu uma segunda chance, as meninas decidiram fazer o melhor uso dela. Foram pra cima e empataram o jogo.

No segundo tempo, as alemãs tentaram repetir o sufoco inicial do primeiro tempo, e aí o Brasil liquidou a partida com dois contra-ataques, em que Marta entregou um gol a Cristiane, e depois ela própria fez o seu, numa arrancada antológica, cercada por duas zagueiras, e dando um toquezinho de lado quando a goleira fechou o ângulo. Não vejo, no atual Campeonato Brasileiro masculino, nenhum atacante, nenhum, que eu consiga imaginar fazendo um gol assim. Não há.

Pra-terminar-de-completar, Cris (que aqui pra nós é a mais bonita do time) pegou uma bola no lado esquerdo da intermediária e passou pelo meio de três adversárias numa espécie de salto quântico: num instante estava aqui, no instante seguinte estavam ela e a bola cinco metros adiante. Invadiu a área pelo lado direito e tocou mansinho na saída da goleira. E comemorou dando aquela rebolada de quem diz: “Gostou?...”

Acho que o excesso de pressão que a Alemanha botou no início desgastou suas jogadoras. Enquanto as brasileiras se viram sufocadas, cercadas, atropeladas quando pegavam na bola, a Alemanha mandou no jogo. Quando elas cansaram e nos deram espaço, o Brasil sobrou. Qualquer seleção no mundo (vejam a de Camarões contra a Seleção masculina, dias atrás) sabe que se deixar o brasileiro jogar, está perdido.

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