quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

1523) A música na Paraíba (30.1.2008)



Divido a história da música popular em “explosões”, não em “fases”, porque este termo dá a idéia de uma coisa com começo e fim, e na vida cultural as coisas começam e não acabam nunca, mesmo que em certo ponto se retraiam, cedendo espaço às novas coisas que acabam de aparecer. No meu tempo de vida como ouvinte, cresci na década de 1950, quando ressoava a primeira grande explosão nordestina, a música regional produzida na esteira do sucesso do baião criado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Era a época de Jackson do Pandeiro, Marinês, João do Vale; de compositores como Zé Dantas, Rosil Cavalcanti, Onildo Almeida e tantos outros.

A segunda explosão foi nos anos 1970, e veio de uma direção diferente. Eram artistas de classe média, que tinham cursado (e geralmente abandonado) universidades, com formação musical variada (rock, bossa-nova, etc.). É a geração de compositores-cantores como Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Fagner, Belchior, Ednardo; de cantoras como Elba Ramalho, Amelinha. O elemento regional, rural, era muito forte, mas eram todos artistas urbanos, e a música que faziam (e ainda fazem) era um misto de regional, MPB e pop internacional.

A terceira explosão veio nos anos 1990, e embora tenha tido perfis musicais variados pode-se colocar o “Mangue Bit” de Chico Science como o grupo mais característico. Esta geração radicalizou a influência de um rock mais visceral e ruidoso do que o que influenciara a turma anterior. Um rock meio sujo, mal comportado, de roupas desmanteladas. Houve também uma contaminação grande com o hip-hop e a música eletrônica. Tudo isto se uniu aos ritmos regionais, sendo que em vez do baião e do xote esta geração privilegiou o maracatu e o coco de embolada (numa clara interface com o rap).

É no interior destas três explosões sucessivas que os artistas paraibanos encontram seus caminhos próprios. Chico César, por exemplo, apesar de surgido nos anos 1990 tem uma sonoridade mais parecida com a dos anos 1970 do que com a dos seus companheiros de geração. Grupos como Cabruêra, As Parêa, Chico Corrêa, Totonho & Os Cabra, Beto Brito e outros seguem, com as inevitáveis variantes, o mesmo perfil de formação e de textura sonora estabelecido pelos grupos pernambucanos que cronologicamente os precederam (Nação Zumbi, Mundo Livre, Cascabulho, Mestre Ambrósio, Orquestra Santa Massa, Cordel do Fogo Encantado, etc.). Guitarras estridentes e “loops” eletrônicos contracenam com percussão pesada e instrumentação regional (rabeca, viola, etc.).

É um formato que vem sendo bem aceito pelo público e que não se esgota em si mesmo, porque a formação individual de cada grupo se organiza em função das habilidades de seus integrantes. A sonoridade dos grupos é parecida o bastante para que possamos enquadrá-los todos dentro de uma mesma proposta musical, e ao mesmo tempo é variada o bastante para que possamos distingui-los uns dos outros sem muito esforço.

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