quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

1522) O herói do Everest (29.1.2008)


(Edmund Hillary e Tensing Norgay)

Faleceu no dia 11 passado um dos heróis da minha infância: Sir Edmund Hillary, o primeiro homem a escalar o Monte Everest. (Ele o fez acompanhado pelo guia “sherpa” Tensing Norkay, liderando um grupo com outros 20 guias e 320 carregadores que conduziam 10 toneladas de bagagem – mas para a imprensa e os livros de História é bem claro quem foi o herói.) Cresci num mundo pequeno, de apenas 2 bilhões de habitantes, e Hillary (que escalou o Everest em 1953) aparecia em todos os almanaques, todas as revistas, todos os jornais. Sua façanha era única, e somente em 1969, quando Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na Lua, surgiu alguém que pudesse rivalizar com ele.

Há muitos livros sobre a façanha de Hillary. A escalada do Everest tornou-se um lugar comum nas últimas décadas, graças a novas tecnologias. Isto não quer dizer que tornou-se algo fácil; todos os anos há alpinistas (inclusive brasileiros) que morrem na tentativa. Ao que se diz, Hillary não via com simpatia o espírito competitivo dos escaladores mais recentes, e teria comentado, após a morte do alpinista David Sharp em 2006: “Acho que se criou uma atitude horrível com relação à escalada do Everest. Tudo que as pessoas querem é chegar ao topo. Não dão a mínima importância a um companheiro que esteja em dificuldade, e não me admira nada que tenham sido capazes de deixar alguém embaixo de uma rocha até a morte”.

Num comentário no New York Times, Edward Rothstein comentou que o perfil dos montanhistas (e dos exploradores em geral) mudou muito nos últimos tempos, comparado aos tempos áureos do Império Britânico: “O explorador dos tempos do Império é hoje uma anomalia. Muita energia tem sido gasta ultimamente mostrando o quando esses aventureiros estiveram associados aos aspectos mais venais do passado, e como a conquista e o controle de novos territórios se transformaram em crueldade. Por contraste a esse tipo de explorador, criou-se um novo tipo, o pioneiro pós-moderno que não é heróico, mas cuidadoso, correndo poucos riscos, desejando mais a segurança do que a aventura, visando mais a consideração para com os outros do que sua afirmação sobre eles, desbravando novos territórios simplesmente ao dar nova forma aos antigos.” O objetivo dos escaladores, diz ele, “é estabelecer uma rotina segura”.

Hillary subiu ao Everest, e depois visitou os Pólos Norte e Sul – consta que é o único ser humano a ter estado nesses três lugares. Não era um desse profissionais frios e deliberados de hoje (suas preocupações sociais e ambientais, temas hoje comuns, foram uma novidade em sua época). Quando ele e Tensing passaram quinze minutos no topo do Everest, o sherpa não sabia manejar uma máquina fotográfica, e Hillary ficou sem uma foto de seu maior triunfo. Ao descer, comentou com os outros membros da expedição: “Derrotamos o filho da p...” O Everest era uma aventura pela aventura, não um empreendimento tecnológico e publicitário como hoje.

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