(cartum de Chaval)
O matemático Alan Turing, um dos primeiros teóricos da Inteligência Artificial, propôs certa vez um teste para se decidir se uma máquina era “inteligente”. Turing afirmou que bastava fazer um diálogo: numa sala, um examinador, e noutra sala, a máquina examinada. O examinador enviaria as perguntas por escrito, e leria as respostas. Se ele não pudesse distinguir com segurança se aquilo era uma máquina ou uma pessoa, então não haveria nenhum motivo para dizer que a máquina não possuía inteligência. Uma máquina inteligente, portanto, seria uma que desse respostas plausíveis (respostas que soassem tipicamente humanas) a perguntas aleatórias, como “Quanto é 847.262.957.373 mais 363.869.773?” ou “Você gosta de que tipo de pizza?” ou “Capitu traiu Bentinho?” Note-se que a resposta não teria necessariamente que ser correta; bastaria que parecesse ter sido dada por um ser humano.
Esse tipo de teste é mais ou menos o que se coloca a qualquer pessoa diante de uma obra de arte, seja uma pintura, um filme, um poema. Quando perguntamos: “Isto é arte?” estamos perguntando, de certa forma, se existe uma inteligência por trás daquilo, se existe uma personalidade, uma vida humana, ou se aquilo é apenas um agregado competente de clichês, uma reciclagem de formas já existentes, algo que uma máquina bem programada faria sem dificuldade.
Surgem daí, imagino eu, todos aqueles trabalhos satíricos que questionam a arte moderna. Há brincadeiras famosas como a do marchand que prendeu um pincel ao rabo de um burro, enquanto este comia satisfeito, e exibiu o quadro resultante com o título “Por-de-sol no Adriático”. Há os “poemas escritos por computadores”, e assim por diante. Não me esqueço de uma página memorável do cartunista Carlos Estêvão em O Cruzeiro, satirizando os pintores modernos da escola de Jackson Pollock: o cara põe a tela no chão, joga areia, joga tinta, sapateia em cima, anda de bicicleta, espalha milho e galinhas sobre a tela, e no final expõe o resultado.
Essas brincadeiras todas parecem querer convencer-nos de que a Arte chegou a um ponto tal de despersonalização que pode ser produzida por um animal, por uma máquina, por um ritual caótico de interferências às cegas. Não existe um ser humano por trás daquilo, e mesmo quando existe, somos incapazes de percebê-lo como tal. É o problema de quem entra como jurado num concurso de contos onde as obras aparecem sob pseudônimo. Há coisas ali que parecem escritas por uma máquina: tudo certinho, tudo sintaticamente preciso, tudo obedecendo às convenções narrativas internacionais, tudo enquadradinho nas fórmulas da Modernidade... mas a gente não consegue enxergar aquilo como o resultado de uma pessoa pensando. Faltam esquinas, faltam surpresas, falta o ziguezague natural de uma mente verdadeira. O problema da literatura de hoje não são os computadores, são as máquinas de escrever. As máquinas humanas, incapazes de nos proporcionar sustos e revelações.
Esse tipo de teste é mais ou menos o que se coloca a qualquer pessoa diante de uma obra de arte, seja uma pintura, um filme, um poema. Quando perguntamos: “Isto é arte?” estamos perguntando, de certa forma, se existe uma inteligência por trás daquilo, se existe uma personalidade, uma vida humana, ou se aquilo é apenas um agregado competente de clichês, uma reciclagem de formas já existentes, algo que uma máquina bem programada faria sem dificuldade.
Surgem daí, imagino eu, todos aqueles trabalhos satíricos que questionam a arte moderna. Há brincadeiras famosas como a do marchand que prendeu um pincel ao rabo de um burro, enquanto este comia satisfeito, e exibiu o quadro resultante com o título “Por-de-sol no Adriático”. Há os “poemas escritos por computadores”, e assim por diante. Não me esqueço de uma página memorável do cartunista Carlos Estêvão em O Cruzeiro, satirizando os pintores modernos da escola de Jackson Pollock: o cara põe a tela no chão, joga areia, joga tinta, sapateia em cima, anda de bicicleta, espalha milho e galinhas sobre a tela, e no final expõe o resultado.
Essas brincadeiras todas parecem querer convencer-nos de que a Arte chegou a um ponto tal de despersonalização que pode ser produzida por um animal, por uma máquina, por um ritual caótico de interferências às cegas. Não existe um ser humano por trás daquilo, e mesmo quando existe, somos incapazes de percebê-lo como tal. É o problema de quem entra como jurado num concurso de contos onde as obras aparecem sob pseudônimo. Há coisas ali que parecem escritas por uma máquina: tudo certinho, tudo sintaticamente preciso, tudo obedecendo às convenções narrativas internacionais, tudo enquadradinho nas fórmulas da Modernidade... mas a gente não consegue enxergar aquilo como o resultado de uma pessoa pensando. Faltam esquinas, faltam surpresas, falta o ziguezague natural de uma mente verdadeira. O problema da literatura de hoje não são os computadores, são as máquinas de escrever. As máquinas humanas, incapazes de nos proporcionar sustos e revelações.
Pois é. Se somos obrigados a perder a única coisa que nos separa dos animais, e a equipará-los a nós, quem somos nós afinal?
ResponderExcluirA propósito, adorei seu livro, "Mundo Fantasmo", e estou ainda decidindo se o classifico mentalmente como ficção científica ou fantasia heróica.
ResponderExcluirO livro "Mundo Fantasmo" é difícil de classificar num gênero, porque cada conto pertence a um gênero diferente. Obrigado pelos comentários!
ResponderExcluirEstou andarilhando por aqui. Já experimentei o primeiro escrito...
ResponderExcluirÉ verdade, tem faltado alma na literatura, acho que essa busca da perfeição aparente... Plastifica as emoções.
Depois navego mais. Beijos.