("A MPB no Romance Brasileiro", de José Ramos Tinhorão)
Luiz Gonzaga inventou o baião como gênero musical próprio, mas talvez o registro mais antigo do termo, em sua forma antiga de “baiano”, seja o que José Ramos Tinhorão (A Música Popular no Romance Brasileiro, Editora 34, vol. I) localizou no romance Luizinha, de Araripe Júnior, folhetim de jornal de 1872, publicado em livro em 1878: “As violas temperaram-se; os cantores entoaram a louvação de costume ao dono e à dona da casa, e das unhas dos tocadores rompeu um baiano rasgado, capaz de fazer estremecer ao mais bisonho filósofo.”
“Baião”, no entanto, designa não apenas o toque usado nas violas como também as danças praticadas ao som desse toque, e as festas onde isso tudo acontecia. O caráter intercambiável destes termos (ver “O que é forró”, 24.4.2003) faz inclusive com que muitos achem que “baião” vem de “bailão”, um grande baile, grande festa.
O termo reaparece num livro que, curiosamente, foi escrito por volta de 1891 e só foi publicado em 1952: D. Guidinha do Poço, do cearense Oliveira Paiva. Tinhorão o considera “primoroso”, com linguagem “originalíssima”, e comenta: “a cena de um samba de matutos se revela de uma precisão e de um colorido poucas vezes alcançado na literatura brasileira”. Neste livro, o “baião” é descrito, segundo Tinhorão, “como à base de toques de viola e acompanhado do canto em desafio”. Tinhorão transcreve e comenta um longo trecho do livro em que um dos tocadores de viola queixa-se de que a festa está se diversificando, e deixando de ser cantoria: “Neste fordunço, a cantoria se perde quase toda!”
Me parece bem visível, lendo a literatura da época, que a cantoria a desafio e o popular “samba”, ou “batuque” eram naquele tempo coisas misturadas. Os desafios de viola eram muitas vezes intercalados com dança e percussão, com os violeiros adiantando-se para o meio da roda, lançando seus versos para os vivas e aplausos de todos, e recuando para que o batuque recrudescesse e os pares voltassem a dançar. Verso improvisado e batuque dançado se misturam e se alternam dentro de um mesmo folguedo, como aliás foi bem registrado em outros livros da época, notadamente Fatalidades de Dous Jovens, folhetim de 1856 escrito por Teixeira de Sousa, e O Seminarista de Bernardo Guimarães (1869).
Eu diria que foi desses “fordunços” que surgiram, e se separaram, a Cantoria de Viola como a entendemos hoje (espetáculo de versos improvisados ao som da viola, sem nenhum outro canto ou acompanhamento, sem percussão, sem dança) e os atuais forrós. Antes, era tudo misturado. Com o tempo, imagino eu, foram se despregando um do outro, porque havia quem preferisse dançar, e havia quem preferisse dar atenção concentrada ao desafio poético ds repentistas. Quando Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, após seu histórico encontro, decidiram compor canções reunindo a poética regional, a cadência das violas dos repentistas e a levada musical dos forrós à base de fole e percussão, estavam voltando a unir elementos há muitos anos separados.
Luiz Gonzaga inventou o baião como gênero musical próprio, mas talvez o registro mais antigo do termo, em sua forma antiga de “baiano”, seja o que José Ramos Tinhorão (A Música Popular no Romance Brasileiro, Editora 34, vol. I) localizou no romance Luizinha, de Araripe Júnior, folhetim de jornal de 1872, publicado em livro em 1878: “As violas temperaram-se; os cantores entoaram a louvação de costume ao dono e à dona da casa, e das unhas dos tocadores rompeu um baiano rasgado, capaz de fazer estremecer ao mais bisonho filósofo.”
“Baião”, no entanto, designa não apenas o toque usado nas violas como também as danças praticadas ao som desse toque, e as festas onde isso tudo acontecia. O caráter intercambiável destes termos (ver “O que é forró”, 24.4.2003) faz inclusive com que muitos achem que “baião” vem de “bailão”, um grande baile, grande festa.
O termo reaparece num livro que, curiosamente, foi escrito por volta de 1891 e só foi publicado em 1952: D. Guidinha do Poço, do cearense Oliveira Paiva. Tinhorão o considera “primoroso”, com linguagem “originalíssima”, e comenta: “a cena de um samba de matutos se revela de uma precisão e de um colorido poucas vezes alcançado na literatura brasileira”. Neste livro, o “baião” é descrito, segundo Tinhorão, “como à base de toques de viola e acompanhado do canto em desafio”. Tinhorão transcreve e comenta um longo trecho do livro em que um dos tocadores de viola queixa-se de que a festa está se diversificando, e deixando de ser cantoria: “Neste fordunço, a cantoria se perde quase toda!”
Me parece bem visível, lendo a literatura da época, que a cantoria a desafio e o popular “samba”, ou “batuque” eram naquele tempo coisas misturadas. Os desafios de viola eram muitas vezes intercalados com dança e percussão, com os violeiros adiantando-se para o meio da roda, lançando seus versos para os vivas e aplausos de todos, e recuando para que o batuque recrudescesse e os pares voltassem a dançar. Verso improvisado e batuque dançado se misturam e se alternam dentro de um mesmo folguedo, como aliás foi bem registrado em outros livros da época, notadamente Fatalidades de Dous Jovens, folhetim de 1856 escrito por Teixeira de Sousa, e O Seminarista de Bernardo Guimarães (1869).
Eu diria que foi desses “fordunços” que surgiram, e se separaram, a Cantoria de Viola como a entendemos hoje (espetáculo de versos improvisados ao som da viola, sem nenhum outro canto ou acompanhamento, sem percussão, sem dança) e os atuais forrós. Antes, era tudo misturado. Com o tempo, imagino eu, foram se despregando um do outro, porque havia quem preferisse dançar, e havia quem preferisse dar atenção concentrada ao desafio poético ds repentistas. Quando Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, após seu histórico encontro, decidiram compor canções reunindo a poética regional, a cadência das violas dos repentistas e a levada musical dos forrós à base de fole e percussão, estavam voltando a unir elementos há muitos anos separados.
que interessante isso. nunca tinha visto essa interpretação...
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