terça-feira, 11 de março de 2008

0204) A métrica do sucesso (15.11.2003)




Pronunciamento recente do Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld: “Falta-nos hoje uma métrica para sabermos se estamos ganhando ou perdendo a guerra global contra o terror. Não sabemos se estamos capturando, matando ou dissuadindo mais terroristas, todos os dias, do que os centros de treinamento e os clérigos radicais estão recrutando, treinando e enviando contra nós.” Uma tal confissão, vinda de um cara triunfalista como Rumsfeld, é de dar calafrios. Ela mostra o quanto os racionalistas norte-americanos trabalham no escuro, fazendo de conta que sabem o que estão fazendo. E também sugere a atemorizante possibilidade de que o Secretário peça para triplicar seu orçamento militar, porque pode ser que os terroristas estejam duplicando o deles.

Há um detalhe, contudo, que é destacado pelo ex-oficial Phil Carter em seu útil e informativo saite “Intel Dump”. Ele comenta o conceito de “métrica” usado por Rumsfeld (“medições relevantes do ponto de vista administrativo”), e cita como exemplo o Teste de Aptidão Física do Exército (APFT), limitado a três provas: corrida, apoio de frente sobre o solo (que a gente chama “marinheiro”) e aquele outro em que o cara deita, cruza os dedos na nuca, e ergue o corpo para tocar com os cotovelos nos joelhos. Pergunta Carter: “Isto mede de fato a aptidão física? Nem tanto. Mede a preparação para o combate? Nem tanto. Mas é a métrica utilizada. Foi escolhido porque o Exército precisava de uma padronização” Em consequência disso, programas de treinamento foram criados ou modificados para que os soldados se saiam cada vez melhor nestes 3 testes, melhorando o índice de aptidão. Diz ele: “Isto foi feito em detrimento de outros testes que podem ser considerados mais relacionados com o combate, como a capacidade de marchar por longas distâncias ou de carregar um companheiro ferido. Unidades militares chegaram a cortar a marcha dos seus treinamentos para se concentrar no APFT. A métrica do sucesso tornou-se mais importante do que a missão; é o caso do rabo que abana o cachorro”.

Quando definimos uma métrica, todas as forças envolvidas irão se re-arranjar em função destes novos critérios. Phil Carter adverte: “Quando dizemos aos nossos subordinados que seu desempenho será avaliado por certos indicadores, é natural que eles se concentrem neles e procurem se sair bem por estes critérios, mesmo que haja uma dissonância entre os indicadores e o objetivo final da missão.” Se a métrica de sucesso na MPB é o número de discos vendidos e de aparições na TV, é quase inevitável que os próprios artistas comecem a caminhar nessa direção. Se a métrica do sucesso na política é o número de votos no Congresso para aprovar uma lei, qualquer aliança política é válida. Se a métrica do sucesso no futebol é o valor das contratações e dos contratos assinados com os ídolos, o futebol carioca é o melhor do Brasil.



Nenhum comentário:

Postar um comentário