quinta-feira, 10 de março de 2016

4072) Minhas leituras (11.3.2016)



(ilustração: Félix Vallotton)


Vejam o lado ruim e o lado bom de ter uma coluna num jornal. As pessoas publicam numa rede social (tipo Facebook) posts falando de literatura, música, cinema, etc. Publicam na rede e são lidos por milhares, dezenas de milhares, seja lá quanto cada um tenha. (Não se sabe: são números tão pouco confiáveis quanto os dos famosos livros numerados, dos famosos CDs numerados; nunca se saberá quantos foram feitos.) Já um sujeito que tem coluna no jornal se dirige de outro modo a esses seus leitores de ponto-de-ônibus.

Digressão: existe um Arquétipo do Inconsciente Jornalístico segundo o qual todo artigo de jornal é lido num ponto-de-ônibus, sob sol escaldante ou chuva torrencial, e tem que ser lido até o fim para pagar a tinta e o papel que o tornaram legível. Um livro é lido numa sala à meia-luz, com música suave ao fundo, um vinho, um momento-gurmê qualquer. O artigo de jornal tem que brigar com a fila do banco, a espera do busão, a contagem regressiva no dentista. Tem que se sobrepor a tudo isto.

Então, vamos, em primeira mão. (Depois do jornal vai para o blog, depois vai para as redes sociais.)

1) “Autores que nunca li”: Leon Tolstoi, William Faulkner, André Malraux, Homero, Virgílio, Ovídio, Dante... A lista é heterogênea, mas lembro de muitas ocasiões em que pairava uma sensação de “ou lê Fulano ou não merece conversar com a gente”. 

2) “Não sinto vontade de ler”: Eu tenho umas birras literárias do tipo “jamais lerei Fulano”, mas são birras, podem ser juridicamente pisoteadas de acordo com minhas venetas. Posso ler qualquer autor; prioridades são outra coisa.

3) “Não conheço ninguém que tenha lido, mas eu amo”: eu poderia falar no poeta-cientista Miroslav Holub, mas quem mo trouxe foi mestre Régis Frota. Digamos então R. A. Lafferty, que nem o pessoal da FC conhece direito. 

4) “Último que li”: Good Omens (Terry Pratchett e Neil Gaiman). A saga do Anticristo como se fosse escrita por Douglas Adams e filmada pelo Monty Python.

5) “Leria tudo de novo”. Espero ainda reler por inteiro cada história que já li de Guimarães Rosa. 

6) “Autores que tocaram meu coração”: gente que me emociona até hoje, mas nunca entrou no cânone literário: A. J. Cronin (Anos de Ternura, A Cidadela), Giovanni Guareschi (as histórias do Padre Don Camilo e do comunista Peppone), Anne Frank, Conan Doyle, Maurice Leblanc.

7) “Todo mundo gosta, menos eu”: é o mesmo caso da pergunta 2. Em princípio, ninguém é indigno de mim como leitor. Não por falta de autoestima; é que um leitor também não deve se valorizar demais. Leitor tem que ser capaz de se misturar com qualquer gentona ou gentinha. 

8) “Uma indicação”: Raymond Queneau.





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