Que beleza seria o mundo se todo mundo visse no mesmo filme um mesmo filme, hem? Mas ninguém se banha duas vezes (nem ao mesmo tempo) no mesmo filme. Fui ver Star Wars 7 sem ter lido praticamente nada a respeito. Uma façanha, considerando-se a enxurrada de idéias nas redes sociais. Escapei, e fui ver. Acho que J. J. Abrams e seus roteiristas se banharam longamente nos roteiros anteriores. Desconte-se a obrigação explícita de restaurar o sabor original do produto.
Depois de um clímax militar bem conclusivo, o filme se
arremata com um personagem estendendo uma arma para outro, como quem diz: “Vai
lutar feito um homem ou vai se deixar melancolizar nessa falésia, feito um
poeta romântico?” Todo primeiro segmento de uma trilogia é uma potencial ofensa
ao leitor/espectador distraído, que pensava estar pagando por um livro/filme
inteiro, daqueles com começo, meio e fim. Lembro do estado de choque no rosto
de muitas pessoas ao se acenderem as luzes após A Irmandade do Anel, o
primeiro filme da trilogia de Peter Jackson.
Assim como a Odisséia nada mais é do que um cara querendo
voltar para casa depois do trabalho, O Despertar da Força é a história de uma
encomenda que alguém pede a outra pessoa que entregue a uma terceira. Quem
continua sendo um enigma é a tal da Força, cada vez mais uma mistura de
telepatia com telequinésia. Ou como “a Voz” das feiticeiras de Duna, mas sem
o efeito sonoro correspondente. A voz hipnoticamente obedecida, que proporciona
ao filme algumas fugas-do-calabouço na base do liberalismo, como nos velhos
seriados. Como dizia Peter Nicholls, são as fugas tipo
“com-um-puxão-Jack-rompeu-as-cordas-e-viu-se-livre”. A fuga do personagem
acontece por decisão diretorial e dramatúrgica; o ator/atriz obedece até com
certo constrangimento.
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