Durante
décadas de convivência minha com Elba Ramalho, o seu irmão Erácliton era sempre
uma das pessoas mais animadas que havia em torno. Tocador de violão, puxador
daquelas músicas tiradas “do fundo do baú”, fossem sambas ou forrós. Nas mesas
do Refavela, o bar de Bel (em Campina), ou no terraço do apartamento da Lagoa,
no Rio, ele era sempre uma risada de alto astral. O imprevisto o colheu ao
atravessar uma rua em João Pessoa. Foi a primeira vez que nos fez ficar
tristes.
Anabela
fugiu jovem de Angola, quando a guerra civil passou o rodo no país. Veio parar
no Brasil, morou na Paraíba, radicou-se em Mossoró. Viúva, sua casa reunia quem
fazia teatro, literatura, música. Era magra, espigada, sempre com um uísque na
mão e um cigarro nos dedos; ria muito, não tinha papas na língua, e com sotaque
lusitano carregado não dava bola para a opinião do povo. Nosso último encontro
foi numa farra das dez da noite às oito da manhã. Uma cirurgia problemática a levou
do nosso mundo, mas não daqui.
A vida é cheia de simetrias. Meu pai era do Recife e veio ter os filhos, e criá-los, em Campina Grande. Seu Geraldo era de Campina e foi ter os seus no Recife. Era comunista da velha guarda (daí ter um filho chamado Lenine), o que significa aquela velha guarda humanista, amante das letras e das artes, para a qual o indivíduo tem uma importância tão grande quanto o coletivo. Grande papo sobre qualquer assunto, com histórias do arco-da-velha sobre uma Campina antiga onde ele e meu pai começaram uma amizade que se prolongo entre mim e seu filho.
O
fandom da ficção científica é um feudo de batalhas e disputas constantes, onde
as preferências literárias e cinematográficas são defendidas como se fossem
outras tantas pátrias ameaçadas pelas hordas bárbaras. Pierluigi Piazzi (ex-radialista,
ex-professor de cursinho, fã de “Star Trek”) era exuberante, falador, eloquente
na defesa dos autores que admirava e na gozação sobre os que não curtia. Deixou
aos fãs de FC (e a dezenas de milhares de ex-alunos paulistanos) a editora
Aleph, e mil histórias impagáveis.