segunda-feira, 16 de novembro de 2015

3973) Terror para crianças (17.11.2015)




Um subgrupo interessante da literatura de terror é o terror para crianças. 

Por um lado, parece um gênero fácil, porque se supõe que as crianças se aterrorizam mais do que um adulto calejado, mais provido de defesas. 

Por outro lado, o objetivo da literatura de terror não é só aterrorizar, mas aterrorizar divertindo (é uma literatura de entretenimento, que se deve ler pelo prazer da história) e provocando (deve haver nela alguma coisa que cutuque a mente do leitor e o faça examinar melhor seus medos, suas angústias, etc.). Ou seja: mais dois fatores onde se deve considerar a diferença de mentalidade entre crianças e adultos.

R. L. Stine é o autor da famosa série de livrinhos Goosebumps, que deu origem inclusive a uma série de TV de sucesso nos anos 1990. Os livros de Stine venderam 350 milhões de exemplares em 32 línguas, de modo que ele parece entender um pouco do assunto. 

Numa entrevista ao saite Motherboard, diz ele: 

“A parte mais difícil em escrever horror, para mim, é: a linha entre ser tedioso e ser demasiado assustador é tênue, e é preciso ficar bem no meio. Se você for muito cuidadoso, os garotos vão perder o interesse. Se você vai longe demais, vai perturbá-los. Minha regra básica é: você pode ir bem longe, desde que os garotos saibam que aquilo é uma fantasia, que aquilo não pode acontecer.”

Stine é o tipo do autor cujo sucesso vem do fato da cabeça dele ser parecida com a cabeça dos seus leitores. 

“Uma das razões de Goosebumps ser tão popular,” diz ele, “é que a garotada se identifica com os monstros, não com os protagonistas. Às vezes, garotos dessa idade sentem-se como monstros. São zangados. São frustrados. Querem sair soltando rugidos por aí. Não têm autocontrole e querem assumir o controle das coisas. É parte do fascínio deles.”

Alguns autores vendem milhões de livros escrevendo coisas que parecem não lhes exigir muito esforço. Não há relação entre esforço e sucesso numérico. Stine se admira de ter lido tão cedo Edgar Allan Poe, um dos seus autores favoritos. 

“O medo nunca muda,” diz ele, “o medo do escuro, o medo de descer ao porão, o medo de que haja alguma coisa embaixo da escada. Isso não muda nunca.” 

A literatura de terror funciona um pouco como uma vacina. Um elemento estranho é inoculado na mente do garoto, provoca uma reação, mas tudo ocorre num âmbito sob controle. O organismo faz contato com a ameaça num contexto seguro. Aprende a identificar a ameaça, a controlar as descargas químicas que ela produz no organismo. 

É um processo educativo como qualquer outro, uma experiência virtual que nos prepara para encarar com segurança as experiências reais que um dia virão.



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