(O Bandido da Luz Vermelha)
Não foram poucos os sertanistas, nos antigos tempos das
“entradas e bandeiras”, que se largaram descalços para desbravar os cerrados,
as florestas e os sertões.
Botas eram artigo de luxo, e sapatos eram para ser usados na cidade, em ocasiões sociais.
Sérgio Buarque cita documentos dizendo que eles “a pé e descalços marchavam por terras, montes e vales, trezentas e quatrocentas léguas, como se passeassem nas ruas de Madri”. Sapato era para os fracos.
Botas eram artigo de luxo, e sapatos eram para ser usados na cidade, em ocasiões sociais.
Sérgio Buarque cita documentos dizendo que eles “a pé e descalços marchavam por terras, montes e vales, trezentas e quatrocentas léguas, como se passeassem nas ruas de Madri”. Sapato era para os fracos.
“Quem [es]tiver de sapato não sobra!” é o berro reiterativo
do anão no Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla (1968).
Ele quer dizer que quando soar a trombeta do Apocalipse, ou o apito liberando o Arrastão, vai para o paredão quem usar esses sapatos protetores dos pezinhos de quem nunca pegou no pesado. O Armagedon será seletivo. Figurino vai ter peso na lei da sobrevivência.
Ele quer dizer que quando soar a trombeta do Apocalipse, ou o apito liberando o Arrastão, vai para o paredão quem usar esses sapatos protetores dos pezinhos de quem nunca pegou no pesado. O Armagedon será seletivo. Figurino vai ter peso na lei da sobrevivência.
O Brasil cresceu descalço. Os caminhantes traziam as botas
às costas, pendentes de uma vara, e só as calçavam ao entrar na cidade, depois
de lavar os pés. Daí a existência de tantos pontos de entrada com nome de
“Lavapés” ou semelhante.
Esse hábito condicionou até (segundo Sérgio Buarque, Caminhos e Fronteiras, 1957) a fabricação de estribos de metal, que eram feitos de molde a encaixar os dedos dos pés do cavaleiro ou cavaleira.
Esse hábito condicionou até (segundo Sérgio Buarque, Caminhos e Fronteiras, 1957) a fabricação de estribos de metal, que eram feitos de molde a encaixar os dedos dos pés do cavaleiro ou cavaleira.
Em Isaías Caminha (1909) Lima Barreto conta as
manifestações que incendiaram o Rio de Janeiro durante a Revolta da Vacina em
1904. Para efeito ficcional, ele a transformou no romance na Revolta do
Calçado:
“Nascera a questão dos sapatos obrigatórios de um projeto do Conselho Municipal, que foi aprovado e sancionado, determinando que todos os transeuntes da cidade, todos que saíssem à rua seriam obrigados a vir calçados. Nós passávamos então por uma dessas crises de elegância, que, de quando em quando, nos visita.” (Cap. X).
Mais adiante (cap. XII) um jornalista comenta:
“As coisas estão feias! Estive na Gamboa e na Saúde... Os estivadores dizem que não se calçam nem a ponta de espada. Não falam noutra coisa. Vi um carroceiro dizer para outro que lhe ia na frente guiando pachorrentamente: Olá hé! Estás bom para andares calçado que nem um doutor!”.
“Nascera a questão dos sapatos obrigatórios de um projeto do Conselho Municipal, que foi aprovado e sancionado, determinando que todos os transeuntes da cidade, todos que saíssem à rua seriam obrigados a vir calçados. Nós passávamos então por uma dessas crises de elegância, que, de quando em quando, nos visita.” (Cap. X).
Mais adiante (cap. XII) um jornalista comenta:
“As coisas estão feias! Estive na Gamboa e na Saúde... Os estivadores dizem que não se calçam nem a ponta de espada. Não falam noutra coisa. Vi um carroceiro dizer para outro que lhe ia na frente guiando pachorrentamente: Olá hé! Estás bom para andares calçado que nem um doutor!”.
Exibimos O Picolino, musical com Fred Astaire. Na entrada do cinema lia-se numa placa enorme: “Proibido Entrar Descalço”. Quando temos dúvida sobre a classe social a que pertence um brasileiro, ainda é costume baixar os olhos para os seus pés.
Grande Braulio. Basta lembrar que os gols humildes, gols épicos de pés descalços, são mais lembrados que os de chuteiras coloridas. Forte abraço, Dunlop
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