sexta-feira, 2 de outubro de 2015

3934) A Vida e os Tempos de Nenê Cabe Tudo (2.10.2015)



(foto: Johan Strindberg)

Cap. 1 – De como Nenê Cabe-Tudo ganhou esse nome (pois fora batizado Ediclécio Nogueira Mendes) por causa da kombi-furgão que ele usava para fazer mudanças todo dia, o dia todo, sempre nos limites do bairro de Santa Rosa, desde que um cálculo de logística e de combustível o convenceu a dar prioridade a um grande número de viagens curtas.

Cap. 2 – De como no dia que nos compete Nenê estava entregando um carregamento de isopores na Várzea Preta, na rua da birosca de Antõe Diomede, lá no fim, num galpão de carga e descarga do lado de lá da igreja do Grão Senhor.

Cap. 3 – De como esses isopores não eram as caixas vazias que ele visualizou quanto o seu contato fez a proposta por telefone, mas a voz foi falando logo em valores, e ele achou que por aquele preço levaria os isopores mesmo que estivessem carregados de lingotes de ouro, o que não era certamente o caso, era algo lacrado e mais leve.

Cap. 4 – De como seguiram-se, em rápida sucessão, um frete tranquilo num fim da tarde preparando o terreno para um merecido lanche regado a cerva, um veículo desgovernado acertando-o onde ele menos esperava, isopores felizmente intactos espalhando-se em volta da kombi virada, o desembarque de alguns policiais perplexos logo sucedidos por uma equipe de caras com roupas comuns mas que pareciam voar todos pelas mesmas coordenadas, e uma sala de interrogatório.

Cap. 5 – De como Nenê não teve remédio senão entregar alguns clientes, tanto os donos do galpão quanto os remetentes das caixas, o que lamentou muito, mas vão-se os anéis ficam os dedos, e antes que a investigação acabasse ele já tinha aceitado uma proposta para fazer um curso de inglês em Durban, numa mistura de bolsa de estudos e delação premiada. 

Cap. 6 – De como em Durban pairou com força sobre Nenê uma nuvem depressiva, lúgubre, prejudicando-lhe até a saúde, e da qual ele só se livrou tornando-se empresário de um grupo de dezoito coristas de folias parisienses de pernas nuas, casou com uma, teve xamego com meia dúzia, associou-se a uma frota de navios de cruzeiro, ficou milionário, e finalmente solteiro de novo.

Cap. 7 – De como Nenê entrou para um mosteiro no fim daquele inverno, o primeiro dos cinco que passaria ali, em silêncio quase absoluto, numa vida de intensa imersão em si próprio, repassando tudo, principalmente os erros, mas os acertos também, embora isso seja apenas conjetura ociosa, pois ao sair do mosteiro, e desde então, ele nada comentou com ninguém.

Cap. 8 – De como ele tirou a barba, voltou a crescer o cabelo, comprou a Antõe Diomede uma casinha no Santa Rosa, financiou a compra de uma van e olha ele aí de novo.





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