(foto: Johan Strindberg)
Cap. 1 – De como Nenê Cabe-Tudo ganhou esse nome (pois fora
batizado Ediclécio Nogueira Mendes) por causa da kombi-furgão que ele usava
para fazer mudanças todo dia, o dia todo, sempre nos limites do bairro de Santa
Rosa, desde que um cálculo de logística e de combustível o convenceu a dar
prioridade a um grande número de viagens curtas.
Cap. 2 – De como no dia que nos compete Nenê estava
entregando um carregamento de isopores na Várzea Preta, na rua da birosca de
Antõe Diomede, lá no fim, num galpão de carga e descarga do lado de lá da
igreja do Grão Senhor.
Cap. 3 – De como esses isopores não eram as caixas vazias
que ele visualizou quanto o seu contato fez a proposta por telefone, mas a voz
foi falando logo em valores, e ele achou que por aquele preço levaria os
isopores mesmo que estivessem carregados de lingotes de ouro, o que não era
certamente o caso, era algo lacrado e mais leve.
Cap. 4 – De como seguiram-se, em rápida sucessão, um frete
tranquilo num fim da tarde preparando o terreno para um merecido lanche regado
a cerva, um veículo desgovernado acertando-o onde ele menos esperava, isopores
felizmente intactos espalhando-se em volta da kombi virada, o desembarque de
alguns policiais perplexos logo sucedidos por uma equipe de caras com roupas
comuns mas que pareciam voar todos pelas mesmas coordenadas, e uma sala de
interrogatório.
Cap. 5 – De como Nenê não teve remédio senão entregar alguns
clientes, tanto os donos do galpão quanto os remetentes das caixas, o que
lamentou muito, mas vão-se os anéis ficam os dedos, e antes que a investigação
acabasse ele já tinha aceitado uma proposta para fazer um curso de inglês em
Durban, numa mistura de bolsa de estudos e delação premiada.
Cap. 6 – De como em Durban pairou com força sobre Nenê uma
nuvem depressiva, lúgubre, prejudicando-lhe até a saúde, e da qual ele só se
livrou tornando-se empresário de um grupo de dezoito coristas de folias
parisienses de pernas nuas, casou com uma, teve xamego com meia dúzia,
associou-se a uma frota de navios de cruzeiro, ficou milionário, e finalmente
solteiro de novo.
Cap. 7 – De como Nenê entrou para um mosteiro no fim daquele
inverno, o primeiro dos cinco que passaria ali, em silêncio quase absoluto,
numa vida de intensa imersão em si próprio, repassando tudo, principalmente os
erros, mas os acertos também, embora isso seja apenas conjetura ociosa, pois ao
sair do mosteiro, e desde então, ele nada comentou com ninguém.
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