Toda linguagem é metalinguagem, porque qualquer frase, inclusive esta, ou o “bom dia” que damos ao porteiro do prédio, traz embutida uma reflexão prévia ou simultânea sobre significantes e significados. Não existe enunciação da linguagem que não contenha uma crítica ou uma estética da linguagem. Dependendo de quem estiver na portaria eu posso dizer “Bom dia” ou “Fala, Rodrigo, tudo bom?”. A crítica da linguagem e a escolha da linguagem vêm embutidas em cada opção. Toda linguagem impõe hierarquias, prioridades e critérios de escolha. Magritte compreendeu que a melhor maneira de indicar o que é um cachimbo é desenhar um cachimbo e dizer: “Isto não é um cachimbo”. Vale para praticamente tudo.
O século 20 foi
o apogeu dessa vertigem, e tudo adquiriu foros de linguagem própria: a
propaganda, a moda, a culinária, a produção industrial, o trânsito, as posições
sexuais, a espessura da espuma do chope. Uma doença é uma linguagem com que
nosso corpo, esse ser alienígena, tenta nos comunicar algo. Há uma linguagem
inconsciente no modo como na praia entramos no mar: tibungando, andando, aos
pulinhos... O planejamento urbano é um texto cifrado, e também o jeito de
aparar a barba, o modo de forrar a cama, a postura corporal. Tudo é leitura,
como nos advertem os comentaristas de futebol: “Neymar leu a jogada
corretamente e se posicionou no lugar certo na hora certa”.
A mídia ambiente
é toda ela de linguagem, mas não é uma linguagem única nem concebida por uma
mente única. É tão diversificada quanto uma floresta tropical, e as linguagens
lutam por espaço, lutam por sol, lutam por água – em termos práticos, lutam por
um olhar que as leia e as recolha na memória a ponto de deixar seu comportamento
ser moldado por elas. Uma empresa espalha dez mil cartazes “Beba Punk-Cola!”
pela cidade e começa a medir o consumo nas semanas seguintes. Se aquela
enunciação não está produzindo resultado, ela definha como um arbusto sem água.
É a única maneira de saber se uma mensagem assim está sendo lida. Lemos sem
perceber. Um cardápio, um jardim, um ritual, tudo é uma frase de uma espécie de
língua.
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