segunda-feira, 31 de agosto de 2015

3907) "As Infâncias de Quaderna" (1.9.2015)





(Irandhir Santos, em A Pedra do Reino)



Dias atrás estive no “XIII Festival Recifense de Literatura – A Letra e a Voz”, que este ano homenageou Ariano Suassuna. 

A sugestão do festival era de fazer uma leitura de textos do autor. Pensei em ler episódios do Romance da Pedra do Reino, mas preferi ler trechos de uma obra de Ariano que quase ninguém conhece: o romance História D’o Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: As Infâncias de Quaderna, que pouquíssimas pessoas já leram, mesmo em Pernambuco e na Paraíba. 

Esse romance seria o volume 3 da série cujo número 1 é o Romance da Pedra do Reino e o número 2 é História D’o Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: Ao Sol da Onça Caetana

O 1 e o 2 saíram pela Ed. José Olympio, mas o 3 foi publicado apenas em folhetins dominicais no Diário de Pernambuco, de 2-5-1976 a 19-6-1977.

Ariano não quis publicá-lo em livro, porque viu muitos defeitos na obra, que, mesmo assim, tem inúmeras passagens brilhantes, da melhor prosa que ele já escreveu. E mais do que isso: esclarece um sem-número de coisas a respeito do personagem Quaderna, seus pais, seu passado, sua criação. 

Chego mesmo a afirmar que só entendi o Romance da Pedra do Reino (que eu já lera várias vezes) quando li As Infâncias de Quaderna, que tapa muitos buracos e esclarece muitos pontos duvidosos do outro livro.

Nas Infâncias ficamos sabendo, p. ex., que Quaderna foi parido na Fortaleza de Santa Catarina, na capital da Parahyba; que foi raptado por ciganos, resgatado pelo cangaceiro Antonio Silvino, e devolvido por este à família dos Garcia-Barreto, seus tios maternos. 

Temos também uma visão mais completa de um personagem crucial da trama, o fazendeiro e usineiro Antonio Morais, que no Romance da Pedra do Reino aparece apenas de passagem. Morais é o grande vilão da obra, representante do capitalismo internacional e da mentalidade predatória urbana, e se contrapõe a Dom Pedro Sebastião Garcia-Barretto, o tio de Quaderna, que encarna as virtudes cavalarianas da nobreza do Sertão.

Quando perguntei a Ariano se valia a pena desperdiçar tanta coisa boa que há nas Infâncias, ele disse que uma parte desse material seria aproveitada no famoso “livro novo” que ele ficou preparando durante todos estes anos, que já foi chamado de A Ilumiara, mas cujo título atual é O Jumento Sedutor

Não li essa obra, e ainda estou à espera; mas acho que mesmo que não se publicasse o texto completo das Infâncias, que seria do tamanho da Pedra do Reino, daria para fazer uma seleção de capítulos, entremeados por algum texto explicativo, resultando num volume de 200-250 páginas com alguns dos pontos altos da prosa de Ariano.






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